O JOÃO e o PAULO vivem longe um do outro. Vai a distância do oceano Atlântico.  Quis a criatividade de ambos aproximá-los. Bastou para o efeito ligarem-se através das redes sociais. A circunstância de falarem a mesma língua facilitou o encontro. Depois trocaram-se de palavras e desenhos e assim nasceu Efeitos Secundários por efeito dos efeitos especiais da amizade e da criatividade. Uma experiência a repetir entre os dois ou com outros criativos estejam onde estiverem. Não é João e Paulo?

Por Paulo Moreira Lopes

Antes de se conhecerem sabiam da obra de ambos? Se sim qual a opinião que tinham sobre a mesma?

Paulo Stocker (PS): Eu não conhecia. Tive o prazer de conhecer a obra do João através desse trabalho.

João Mauel Ribeiro (JMR): Eu conhecia do projeto Escrítica (www.escritica.com), onde o Paulo ia publicando alguns dos seus desenhos desconcertantes.

Quem tomou a iniciativa de fazerem um livro a meias e porquê?

PS: O João.

JMR: Eu mesmo! Gostava do tom mordaz e crítico do que via no Escrítica. Pensei que o pior que podia acontecer era receber uma “nega”.

Qual o meio de comunicação utilizado na parceria (correio, telefone, skype, email ou outro) ou já se reuniram fisicamente?

PS: Primeiro através do facebook, depois enviei as ilustrações por ê-mail.

JMR: Nunca nos encontramos pessoalmente. Toda a comunicação foi “virtual”.

O João impôs alguma condição ao Paulo nas ilustrações?

PS: Só sugeriu algum pequeno detalhe aqui e ali. Nada demais.

JMR: Gosto de, tanto quanto possível, respeitar a liberdade criativa de quem colabora comigo.

O Paulo fez algumas escolhas quanto aos temas, personagens, sequência das ilustrações ou outro tipo de abordagem da obra?

PS: Não. Apenas ilustrei a obra.

JMR: O processo foi fácil. O problema não se colocou.

Já agora, o Paulo sentiu a falta dos quadros (semelhantes a moldura com que brinca o Clovis) ou contentou-se em desenhar a linha do chão?

PS: Eu sou obediente. Sigo o roteiro.

JMR: Em boa verdade, não havia roteiro. Aconteceu assim. O assunto não foi abordado. Mas podia tê-lo sido, efetivamente!

O Clovis, a Dona e a Augusta foram convidados ou fizeram-se convidados?

PS: A princípio foram convidados. O Clovis apenas perguntou se poderia levar a família.

JMR: Não me foi perguntado, mas apreciei o convite e o facto de se tornarem presentes.

O João ficou agradado com a participação daquele trio?

PS: Pois é. Ficou?

JMR: Agradabilíssimo! Se não, tê-lo-ia dito! Quanto mais rico e plural for um livro (sobretudo de poemas), melhor!

Os poemas já foram escritos para serem ilustrados? Em caso afirmativo, há poemas cuja ilustração só poderia ser feita ou bem feita pelo Paulo?

PS: E agora, João?

JMR: Sim, os poemas foram escritos para serem ilustrados. Em teoria, qualquer ilustrador podia ter feito esse trabalho. A escolha do Paulo deveu-se ao facto de me parecer que o estilo dos seus desenhos / ilustrações caíam nos poemas que nem faca quente em manteiga.

O João acha que o Paulo ilustrou bem as coisas sobre que fala no livro ou será que podemos ter na mesma folha duas coisas: uma desenhada (do Paulo) e outra escrita (do João)?

PS: Pois é…

JMR: Pois não é! Temos duas coisas (sempre): uma escrita e outra desenhada, sendo que a ilustração se prende ao texto poético sem o “traduzir”, mas, antes, para o reinventar… Há “sentidos” desenhados que o texto não sugere…!? Ainda bem! A ilustração é a “leitura” visual que o Paulo fez destes poemas. Outro ilustrador, com outro estilo, faria outra leitura. O que importa é que, no livro, texto e imagem, poemas e desenhos concorrem para  “provocar” no leitor “Efeitos Secundários”.

O Paulo diz que escreve com desenhos. Quer dizer que o João desenha com palavras?

PS: Exatamente.

JMR: Assim mesmo!

No pressuposto de que o Paulo ilustrou os poemas do João, já pensaram em fazer o inverso: o João escrever sobre os desenhos do Paulo?

PS: E não foi isso que fizemos? Foi o João que escreveu a partir dos meus desenhos. Mas ele insiste em falar o contrário.

JMR: Bem visto, Paulo!

O facto de ambos falarem português contribuiu para esta parceria?

PS: Muito, além do português, sei algo de italiano, o resto é pantomima.

JMR: Seguramente! Mas podíamos falar qualquer outra língua! A poesia (escrita e desenhada) não tem língua (comprida). É uma linguagem universal!(?)

É possível realizarem-se outras colaborações entre o Paulo e o João ou com outros artistas lusófonos?

PS: Eu estou aberto a novas aventuras.

JMR: Pela parte que toca, sim!

O Paulo considera que há um modo de desenhar em português, por comparação ao espanhol (Quino, Mordillo e Aragonés), ao francês (Sempé) e ao anglo-saxónico?

PS: Eu creio na linguagem universal que é o desenho.

JMR: Subscrevo!

Como está a decorrer a divulgação do livro: Efeitos secundários?

PS: Aqui no Brasil o público se interessou bastante pelo livro.

JMR: Em Portugal, a divulgação é a habitual para um livro de poemas que, supostamente, tem como destinatário os adolescentes e jovens (e que não fará mal nenhum a adultos)!

Publicado originalmente em 4 de Junho de 2015

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1 COMENTÁRIO

  1. É inspirador ver duas pessoas a colaborarem sem fronteiras físicas, mentais ou conceptuais.
    Eu acho que devemos ter orgulho em conservar as coisas boas da nossa cultura, mas isso não deve condicionar ou limitar a interacção criativa. A bagagem identitária de cada um só acrescenta valor e a riqueza desta parceria reforça o trabalho de ambos, sem dúvida, para além de ser uma experiência estimulante.
    Tenho lido alguns poemas ilustrados publicados pelo Paulo e gosto, francamente. Parabéns a ambos! 🙂

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