36. A geometria é poesia solidificada, a ciência da morte e, portanto, exacta.

Aforismos, seleção e organização de Mário Cesariny, Assírio & Alvim, 1998, página 28.

35. Poeta quer dizer Possesso.

Aforismos, seleção e organização de Mário Cesariny, Assírio & Alvim, 1998, página 38.

34. Que drama o da digestão! Sobretudo a última cena.

Aforismos, seleção e organização de Mário Cesariny, Assírio & Alvim, 1998, página 37.

33. O sol bate-nos nos olhos, como nós batemos a uma porta que não se abre.

Aforismos, seleção e organização de Mário Cesariny, Assírio & Alvim, 1998, página 33.

32. O fantasma dos velhos é um mancebo.

Aforismos, seleção e organização de Mário Cesariny, Assírio & Alvim, 1998, página 32.

31. A natureza odeia a linha recta.

Aforismos, seleção e organização de Mário Cesariny, Assírio & Alvim, 1998, página 32.

30. A ciência desenha a onda; a poesia enche-a de água.

Aforismos, seleção e organização de Mário Cesariny, Assírio & Alvim, 1998, página 29.

29. O riso brota dos dentes que mordem.

Aforismos, seleção e organização de Mário Cesariny, Assírio & Alvim, 1998, página 28.

28. A morte é a pessoa feminina de Deus.

Aforismos, seleção e organização de Mário Cesariny, Assírio & Alvim, 1998, página 26.

27. O sol é o esplendor da Vulgaridade.

Aforismos, seleção e organização de Mário Cesariny, Assírio & Alvim, 1998, página 25.

26. O mar é a carne do planeta.

Aforismos, seleção e organização de Mário Cesariny, Assírio & Alvim, 1998, página 23.

25. Somos deuses monoteístas.

Aforismos, seleção e organização de Mário Cesariny, Assírio & Alvim, 1998, página 21.

24. Só a nudez é luminosa.

Aforismos, seleção e organização de Mário Cesariny, Assírio & Alvim, 1998, página 21.

23. A vaidade é a sinceridade em pessoa.

Aforismos, seleção e organização de Mário Cesariny, Assírio & Alvim, 1998, página 20.

22. O pecado é mais fecundo que a virtude.

Aforismos, seleção e organização de Mário Cesariny, Assírio & Alvim, 1998, página 20.

21. Seguir a ordem cronológica é lançar na desordem a obra dum poeta.

Aforismos, seleção e organização de Mário Cesariny, Assírio & Alvim, 1998, página 20.

20. O nome desfigura as coisas.

Aforismos, seleção e organização de Mário Cesariny, Assírio & Alvim, 1998, página 19.

19. Existir não é pensar: é ser lembrado.

Aforismos, seleção e organização de Mário Cesariny, Assírio & Alvim, 1998, página 19.

18. A corrupção favorece as ideias novas.

Aforismos, seleção e organização de Mário Cesariny, Assírio & Alvim, 1998, página 18.

17. O grego é um judeu em flor.

Aforismos, seleção e organização de Mário Cesariny, Assírio & Alvim, 1998, página 17.

16. Só os olhos das árvores vêem a esperança que passa.

Aforismos, seleção e organização de Mário Cesariny, Assírio & Alvim, 1998, página 15.

15. O berço e o túmulo não são para os olhos de quem neles está deitado.

Aforismos, seleção e organização de Mário Cesariny, Assírio & Alvim, 1998, página 15.

14. Deus não sabe como se chama!

Aforismos, seleção e organização de Mário Cesariny, Assírio & Alvim, 1998, página 14.

13. A alegria dos mortos floresce a terra!

Aforismos, seleção e organização de Mário Cesariny, Assírio & Alvim, 1998, página 13.

12. O som é o espírito da cor.

Aforismos, seleção e organização de Mário Cesariny, Assírio & Alvim, 1998, página 13.

11. A ideia de água antecede todas as fontes.

Aforismos, seleção e organização de Mário Cesariny, Assírio & Alvim, 1998, página 11.

10. O ritmo é a substância das coisas.

Aforismos, seleção e organização de Mário Cesariny, Assírio & Alvim, 1998, página 11.

9.
Canção divina as cousas comovia,
E de ternura as árvores choravam… →

8.
Ah! se não fosse a névoa da manhã
E a velhinha janela onde me vou →

7.
Há rochedos que são estátuas misteriosas.
Nós vemo-los, além, nas serras arenosas, →

6.
Quando a primeira lágrima aflorou
Nos meus olhos, divina claridade →

4.
E saberás, portanto, qual é o teu
Destino sobre o mundo; e saberás
Que tudo o que há, debaixo deste céu,
Tem um sentido natural e claro. →

3.
Que saudades eu sinto desta flor,
Que vai murchar! →

2.
O subtil, o reflexo, o vago, o indefinido,
Tudo o que o nosso olhar só vê por um momento →

1.
Vivo, porque espero. Lembro-me, logo existo. →

Teixeira de Pascoaes: Poeta e ensaísta, concluiu os estudos liceais em Coimbra, onde viria a frequentar o curso de Direito. Exerceu a carreira de advogado, no Porto e em Amarante, até 1908. Integrado no movimento cívico e cultural portuense “Renascença Portuguesa”, e cofundador de A Águia, em 1911, Teixeira de Pascoaes foi um dos principais teorizadores do Saudosismo, movimento literário, religioso e filosófico de autoconhecimento e reconstrução nacional, desencadeado pela convulsão política e social de 1910, e que, nas páginas daquela publicação, congregará, num vasto plano programa de revitalização social e cultural, a colaboração de Teixeira de Pascoaes, Mário Beirão, Leonardo Coimbra, Jaime Cortesão, Afonso Duarte, António Carneiro, Sant’Anna Dionísio, Hernâni Cidade, Adolfo Casais Monteiro, Augusto Casimiro, Augusto Gil, Afonso Lopes Vieira, Raul Proença, António Sérgio, António Correia de Oliveira, Manuel Laranjeira, Sampaio Bruno, entre outros. Arreigadamente nacionalista, profetizador de um ressurgimento nacional, Pascoaes encontrará na “Saudade” o carácter definidor da especificidade do ser português: para o autor de Marânus, “quem surpreender a alma portuguesa, nas suas manifestações sentimentais mais íntimas e delicadas, vê que existe nela, embora sob uma forma difusa e caótica, a matéria de uma nova religião, tomando-se a palavra religião como querendo significar a ansiedade poética das almas para a perfeição moral, para a beleza eterna, para o mistério da Vida… Ora a alma portuguesa sente esta ansiedade duma maneira própria e original, o que se nota facilmente analisando os cantos populares, as lendas, a linguagem do povo, a obra de alguns poetas e artistas e, sobretudo, a suprema criação sentimental da Raça – a Saudade!” (manifesto da “Renascença Portuguesa”, publicado em fevereiro de 1914, em A Vida Portuguesa, citado por GUIMARÃES, Fernando in Poética do Saudosismo, Lisboa, 1988, p. 62). “Verbo do novo mundo português” a Saudade é definida por Pascoaes como “o próprio sangue espiritual da Raça, o seu estigma divino, o seu perfil eterno” e seria através da revelação desta “saudade no seu sentido profundo, verdadeiro, essencial, isto é, o sentimento-ideia, a emoção-reflectida, onde tudo o que existe, corpo e alma, dor e alegria, amor e desejo, terra e céu, atinge a sua unidade divina”, da “Saudade vista na sua essência religiosa” que surtiria a “grandeza do momento atual da Raça Portuguesa” (Pascoaes, in A Águia, n.º 1, 2.ª série, p. 1), representada maximamente pelos seus poetas, em quem a saudade se revelou. Simultaneamente movimento literário de cariz neorromântico e propensão metafísica, e doutrina religiosa, política e filosófica, o saudosismo de Pascoaes concorre para o adensar, nas primeiras décadas do século, de um clima profético, de expectativa sebastianista e messiânica, que não deixaria de eivar o espírito do modernismo e, muito particularmente, a reflexão e criação poética de Fernando Pessoa. A tarefa de “divinização da substância espiritual e mítica da Pátria, resumida na figura da Saudade, ambígua senhora-da-noite e aurora do futuro” (cf. LOURENÇO, Eduardo in O Canto do Signo, Lisboa, Presença, 1994, p. 139), será prosseguida, na ensaística de Pascoaes, e mau grado a crítica formulada por António Sérgio, em 1913, nas páginas de A Águia (“Duas Epístolas aos Saudosistas”), contra o carácter nebuloso e passadista da doutrina saudosista, em volumes como O Espírito Lusitano e o Saudosismo (1912); O Génio Português na sua Expressão Filosófica, Poética e Religiosa (1913) ou A Era Lusíada (1914). Retirado, desde 1913, no solar de Pascoaes, em Gatão, para se dedicar exclusivamente à meditação e à criação poética, o conjunto dos seus volumes poéticos apresentam-se como modelares relativamente a alguns traços de uma estética literária saudosista utilizando “alegorias referidas à Pátria-Saudade ou uma transfiguração messiânica, as correspondências e a realização verbal do inefável, os símbolos de natureza patriótica ou relacionados com a especiosa emergência duma alma portuguesa.” (cf. GUIMARÃES, Fernando, op. cit., p. 9); e manifestando uma tendência para a fusão entre contemplação e paisagem, para sugerir um clima profético e visionário, para o culto da tradição, do misticismo, do panteísmo, do génio da Raça e, finalmente, para a valorização da “fisionomia das palavras” (id. ibi., p. 15), isto é, do valor expressivo das próprias formas gráficas. A sua obra e a sua aura exerceram, no entanto, uma influência que extravasou os limites cronológicos do movimento Saudosista, enquanto paradigma (em autores como Eugénio de Andrade ou Agustina Bessa-Luís, entre outros) de uma postura de humildade do homem diante da criação; de compreensão da poesia enquanto forma de revelação e intuição extasiada do desconhecido; da importância concedida à palavra que, de “elemento regional-nacional conduzindo à transcendência”, importa como “objeto de prospeção do lugar onde o Verbo se individualizou” (MARGARIDO, Alfredo, Teixeira de Pascoaes – A Obra e o Homem, Lisboa, Arcádia, 1961, p. 134); ou da vivência da poesia enquanto epicentro “de uma tensão própria ao homem e resultante de tendências contraditórias que o dividem e fazem oscilar entre o informe e o pensamento-forma, entre o mal e o bem, entre o tempo e a eternidade” (cf. LOPES, Silvina Rodrigues, Poesia de Teixeira de Pascoaes, Lisboa, ed. Comunicação, 1987, p. 24).

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