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Porto visto por Dórian Ribas Marinho

Porto visto por Dórian Ribas Marinho

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DÓRIAN Ribas Marinho é advogado, professor e artista independente (mantém alguma distância face à indústria cultural). Nasceu no Rio de Janeiro. Por motivos profissionais ou pessoais acabou por viver em várias cidades do Brasil, umas vezes no litoral, outras no interior. Por onde foi passando incorporou sempre algo do meio, sem que perdesse a identidade. Associa a cidade do Porto ao que designa por poesia líquida; ao aroma e ao sabor do líquido mais maravilhoso já produzido pelo homem. Não visitou o Porto, mas do que lhe contaram os familiares que por cá passaram dá para sentir inveja.

Por Paulo Moreira Lopes

1 – Data de nascimento e naturalidade (cidade e país)?

18.01.51 Rio de Janeiro (Brasil)

2 – Até à data, quais as cidades onde viveu de modo permanente?

Rio de Janeiro (1951 – 1975), Cabo Frio (1976 – 1984), Salvador (1985 – 1988), Santa Maria (1989 – 1991), Florianópolis (1992 – 2009) e Balneário Camboriú (2010 -).

3 – Habilitações literárias?

Licenciatura em direito.

4 – Atividade profissional?

Artista, Advogado, Professor. Faço poesia experimental (poesia visual) como desdobramento literário da vida, da gravura (atividade principal). Podem ver a minha trajetória aqui.

5 – Em que medida o local onde nasceu e viveu ou vive, influenciou ou influencia a sua vida artística?

NOTA: a pergunta pressupõe a defesa da teoria do Possibilismo (Geografia Regional ou Determinismo mitigado) de Vidal de La Blache, depois seguida em Portugal por Orlando Ribeiro, de que o meio (paisagem, rios, montanhas, planície, cidade e, acrescentamos nós, linguagem, sotaque, festividades, religião, história) influenciam (quem sabe se em alguns casos determinam?) as opções profissionais e artísticas dos naturais desse lugar.

Não conheço as teses desenvolvidas pelos autores mencionados mas nunca me ocorreu que pudesse ser diferente. Cada um dos lugares que tive o privilégio de residir com alguma permanência acabei desenvolvendo atividades muito próprias daqueles locais, com sabores específicos desses espaços, submetidos às práticas sociais locais, suas manhas e manejos, as relações com os entes nativos e suas manias. Ética e estética, conteúdo e forma, metalinguagem e semiótica.

Não há como ser só. Nem na gruta escondida de Santo Antão.

Quando morei no Rio de Janeiro (com o Cristo Redentor e as montanhas ao redor da minha janela) estudei desenho, pintura e gravura. Lecionei pintura e gravura para crianças no Museu de Arte Moderna (com vista para ao Pão de Açúcar, o aterro do Flamengo e o centro da cidade). Participei de algumas bienais internacionais de gravura, participei de exposições individuais e coletivas locais, ganhei alguns prêmios locais, regionais e nacionais. Paralelamente, estudei Direito e me tornei advogado. Casei com Rosa (minha musa até hoje) e tivemos uma filha.

Mais tarde, fomos morar em Cabo Frio (uma maravilha da natureza com dezenas de praias lindas, paisagens exuberantes, povo pescador escaldado pelo sol e pelo vento). Lá fui advogado da Prefeitura, fiz muita gravura, ingressei na mail-art e organizei a Bienal Internacional de Gravura e Artes Gráficas de Cabo Frio, com a participação de mais de 300 artistas de 50 países, evento com desbobramento em mais de 10 outras instituições pelo Brasil. Tivemos mais um filho e fomos muito felizes.

Como tudo tem começo, meio e fim fomos para Salvador (terra da família de Rosa e uma das cidades mais lindas do Brasil, com uma cultura de essência africana, visões e atitudes muito próprias, muita festa e alegria, muito acarajé e azeite de dendê, muita influência e inspiração) e acabei como administrador de um bairro na beira do mar no litoral norte. Muita praia, muitos coqueiros, muita gravura, muita arte. Organizei a Paperart (evento de manifestações de pequeno formato) Tempo bom aquele.

Se o que é bom dura pouco, fomos para Santa Maria (cidade no Sul do Brasil, no centro do Estado do Rio Grande do Sul onde fomos atender a uma demanda familiar, pois meu velho pai estava doente e queria ter um maior contato com os netos, local sem praia, muito calor no verão, muito frio no inverno) moramos em um chalé de madeira com cachorro e vista para a cidade (muito romântico e propício para a leitura e a produção de desenhos e gravuras) tivemos a oportunidade e perceber a cultura gaúcha, seus valores (muito churrasco e fandango) e práticas campezinas, seu orgulho e arrogância, suas pretensões culturais e limitações vivenciais. O inverso de Salvador… o inverso do inverso do Rio. O inverso do inverso do inverso do mundo.

O mar (o ar marinho, o cheiro do mar só reconheci como indispensável quando o perdi) nos chamou de volta e fomos viver na ilha de Florianópolis (capital do Estado de Santa Catarina) onde (finalmente) encontramos a nossa tribo. Fui convidado para pertencer a Comissão de Exame de Ordem da OAB e participei do Tribunal de Ética e Disciplina da Ordem dos Advogados do Brasil por 6 anos, bem como fui Presidente da Comissão Estadual de Direitos Humanos da OAB/SC por 15 anos onde tive a oportunidade de (entre outras muitas coisas, publicações, entrevistas no rádio e TV, discursos, debates, palestras etc..) organizar diversos eventos internacionais de mail-art sobre temas relacionados com os Direitos Humanos. Também lecionei Direitos Humanos na Universidade do Estado e em universidades privadas, bem como na Policia Militar de Santa Catarina por 10 anos. Sempre produzindo gravura, poesia, participando de eventos internacionais com significativo distanciamento da indústria cultural. Duas décadas de paraíso.

Mantendo a escrita nomade, os filhos já desenvolvendo vida própria, viemos (finalmente???) para Balneário Camboriú (cidade de praia perto da capital, a Miami catarinense, muito comércio e trepidação, muitos jovens, muitos idosos, muito atendimento médico…que preciso muito atualmente) lugar tranquilo para desenhar, fazer gravura e poesia. Vida boa. Não podia ser melhor.

Todavia, não se perde a identidade, aquilo do ser mais profundo. As influências existem e devem ser sempre benvindas e, se possível, incorporadas. Nada como um ser plural que coexiste consigo mesmo. Conflitos e semflitos. Tudo em um, um em tudo.

6 – Quando pensa na cidade do Porto lembra-se imediatamente de quê?

Qualquer ente humano quando se lembra do Porto sente o aroma e o sabor do líquido mais maravilhoso já produzido pelo homem, um vinho que quase todos os dias tenho a honra e o privilégio de saborear e me sentir no paraíso. Que bom que voces existem. Que bom que produzem este milagre…essa poesia líquida.

7 – Já visitou o Porto? Em caso afirmativo, por que motivo e qual a ideia com que ficou da cidade e da região?

Nessas andanças todas, não tive a oportunidade de conhecer Portugal, mas Rosa e minha filha estiveram no Porto há cerca de dois anos e adoraram tudo, ficaram muito impressionadas com a delicadeza da paisagem, com a gentileza dos patrícios. Que inveja.

8 – Endereço na web/blogosfera para o podermos seguir?

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Dórian_marinho_i

Dórian_marinho_ii

A minha rua por Dórian Ribas Marinho para a I Convocatória Arte Postal Correio do Porto: A minha rua.

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