TEO não é um cão qualquer. Tem presença assídua no mundo da internet onde debita (o verbo seria ladra?) pensamentos entre molduras (serão equivalentes a aspas?). É um cão que se importa com quase tudo, já teve parasitas e está sempre de peito aberto. Umas vezes ingénuo, outras humilde, as mais das vezes matreiro, respondeu às perguntas que lhe colocamos via email, pois não foi possível encontrá-lo na baixa, nem à noite, no escuro, um bocadinho antes de adormecermos. Além de ser de raça imaculada, é do tipo fugidio.
Por Paulo Moreira Lopes
Qual a data do seu nascimento?
Espiritualmente nasci em Angola, em 1969.
É de raça pura?
Imaculada!
Sabe ou suspeita quem sejam os seus pais e, em caso afirmativo, qual a sua identidade?
Sou filho do pai e filho da mãe.
A sua conceção foi um mero acaso ou muito ponderada, os seus pais foram, por exemplo, a consultas de planeamento familiar?
Meu pai nunca fez nada em vão. Acresce que não acredita em planeamento familiar e minha mãe estava distraída a lavar roupa no tanque.
Teo é nome próprio ou diminutivo?
Próprio. O diminutivo é: Canisteo.
Qual o seu estado civil?
Abençoado pela luz.
A alcunha de cão pastor teve origem na função que exerce ou nem por isso?
Sim, claro que sim. Não escolhi ser pastor; foi o rebanho que me escolheu a mim.
É o guia de alguém?
Sigo à frente de quem me segue. Sigo em frente, porque quem me guia é a vontade dos que me seguem.
Por acaso andou no seminário? Faço-lhe a pergunta por abordar muitas vezes a questão religiosa (será trauma?).
Frequentei e frequento muitas casas; tiro ensinamentos de todas, mesmo das mais humildes. Uma casa não é só um corpo físico, uma casa é quem está lá dentro. Amiúde dou por mim em escuros sótãos a abrir janelas.
O reino dos céus será para si o reino dos cães?
Pergunta o pai ao filho: “Como faz o cão?” Quem nunca ladrou que atire a primeira pedra.
Confia no espírito santo?
Confio. Mas também trabalho com outros bancos.
Acha que a vida é uma dádiva ou uma esmola?
A vida é uma escola.
Considera que, em bom rigor, o seu futuro ou o nosso está sempre adiado?
Reponderei à sua pergunta num futuro próximo.
Tem-se em grande conta, leva-se muito a sério?
Tenho consciência da minha insignificância. Ridículos são todos aqueles que não têm consciência do ridículo.
A inteligência ofende-o ou ofende-o bem mais a falta dela?
A inteligência é um exercício de honestidade. O estúpido que se sabe estúpido é logo menos néscio. O problema são os palermas.
Importa-se com tudo ou quase nada?
Com quase tudo.
Em seu entender a virtude, tal como os espelhos, tem dois lados?
Não só tem dois lados como nem sempre a superfície é plana.
Acha que o hábito faz o vício?
Sei de quem não use nada por debaixo do hábito, e isso é um vício.
Gosta de chocolate com avelãs do Pingo Doce?
Parcimoniosamente.
Se vivesse na Foz também dizia: não sei se está a percebêêre?
Não julgo ser capaz de nenhuma das coisas.
Tem ou já teve parasitas?
Sim.
Usa gravata ou uma cruz ao peito?
Uso lealdade; e estou sempre de peito aberto.
Para si, o rei dos animais numa república é o “presidente”?
Pena é que seja um rafeiro.
Também sofre de cãosumismo?
Isso foi uma brincadeira; ninguém é cãosumista.
Quando está amofinado fica como um vulcão?
Vulcão rima com vendilhão.
Não fica cansado de estar sempre sentado a olhar para nós?
Serei mesmo eu que estou sentado? Ou será o tal “espelho da virtude”?
A última e derradeira pergunta: quando é que sai do caixilho?
Encontram-me na baixa; ou à noite no escuro um bocadinho antes de adormecerem.
Publicado originalmente em 6 de Agosto de 2013