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À conversa com Manuel António Pina

À conversa com Manuel António Pina

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FOI uma hora e meia que passou rápido, acelerada pelo humor do escritor e pela poesia. Os três leitores que entrevistaram Manuel António Pina, escolhidos entre todos os que nos enviaram perguntas, ficaram a saber mais sobre as palavras. Por exemplo, que elas também podem ser limpas…

Manuel António Pina nasceu no Sabugal (Guarda) há 67 anos. Licenciou-se em Direito, mas seguiu a carreira jornalística, nas páginas do Jornal de Notícias. É escritor, venceu recentemente o prestigiado Prémio Camões, mas não gosta de se apresentar como tal. “A literatura não é uma profissão, para mim, é uma devoção”, costuma dizer. Já publicou cerca de quatro dezenas de livros, a maioria literatura infanto-juvenil e poesia. “O País das Pessoas de Pernas para o Ar”, a primeira obra que publicou, em 1973, foi agora reeditada pela editora Tcharan.

Quando andava no Secundário gostava da disciplina de Português?

Sempre gostei muito de duas disciplinas: português e matemática. Mas todas as formas de conhecimento são maravilhosas. Só gostamos do que conhecemos, daquilo que não conhecemos não gostamos. Aos 13/14 anos gostava de ler enciclopédias, aprendia imenso.

Maria José Gomes, 10 anos, Colégio Luso Internacional do Porto

Por que se dedicou à escrita para crianças?

Publiquei o meu primeiro livro em 1973, tinha a minha filha mais velha três anos. Escrevi os dois primeiros contos desse livro (“O País das Pessoas de Pernas para o Ar”), a pensar concretamente nela. Ela era até personagem.

Mas quando começo a escrever não sei se estou a escrever uma poesia, um livro infantil ou para adultos. A literatura infantil tem um tom diferente, mais ligeiro, mais leve, mais dançado. Normalmente são textos mais felizes porque me divertem mais a fazer. Gosto de brincar com as palavras, é como se estivesse a brincar comigo mesmo.

Daniela Vaz, Daniela Palma, Cristina Dias e Ana Rita Ribeiro

7º ano, Escola Básica Integrada Patrício Prazeres, Lisboa

Sei que “O Tesouro” foi escrito para explicar à sua filha o conceito de liberdade. Inspira-se na sua família para escrever?

A família faz parte da minha memória e imaginação. E os meus gatos também fazem parte da família. Tenho poemas sobre os meus gatos. O que é que eles pensarão de nós? Como nos verão?

Diana Seara Faria Pinheiro Araújo, 9 anos, Colégio D. Diogo de Sousa, Braga

Escreve textos dramáticos, narrativos e poéticos. Qual destes estilos literários lhe proporciona maior prazer?

A poesia. Mas não é possível distinguir os géneros. Na vida somos muitas pessoas ao mesmo tempo: amigos, filhos, colegas, passageiros, na praia somos banhistas…Não é possível distinguir os géneros, é como na vida. Fazemos distinções para compreender melhor o mundo. Há zonas de fronteira que não são nem uma coisa nem outra.

Diana Seara Faria Pinheiro Araújo, 9 anos, Colégio D. Diogo de Sousa, Braga

Como é que a poesia pode funcionar enquanto refúgio?

É um sítio onde pouso a cabeça. A poesia para mim funciona como uma espécie de refúgio. Escrevo normalmente à noite, em silêncio. É uma espécie de lugar que só eu conheço e onde me sinto confortável. Quando preciso de escrever sento-me nesse sítio.

Rafaela Saraiva, 14 anos, Escola Secundária D. Pedro V, Lisboa

Escreve mais quando está feliz ou quando está infeliz?

Eu escrevo com a memória de quando estive feliz e de quando estive infeliz. Por qualquer motivo misterioso penso que é a infelicidade que produz mais literatura. Se calhar também comigo acontece isso.

Rafaela Saraiva, 14 anos, Escola Secundária D. Pedro V, Lisboa

Escreve os livros em casa?

Normalmente escrevo em casa porque preciso de solidão para escrever. Às vezes estou no café sozinho e escrevo um poema.

Daniel Borges, 11 anos, Portimão

Dos livros que escreveu qual é o seu preferido?

É muito difícil dizer. Normalmente os escritores dizem o último porque é o mais parecido com aquilo que eles são naquele momento. Nós ao longo da vida mudamos muito. Quando tinha dez anos tinha mais cabelo… Mas não é só por fora, também por dentro – a nossa experiência vai-nos mudando. Temos tendência a gostar daquilo que é parecido connosco. Por essa razão, são os dois últimos livros de poesia que escrevi.

Maria José Gomes, 10 anos, Colégio Luso Internacional do Porto

Quais são os passos para criar um livro?

A regra é não haver regra. O plano que se faz é só uma linha de orientação. Para “Os Piratas” fiz um plano, sabia o que se ia passar em cada cena e depois fiz o diálogo das personagens, que foram ganhando vida própria. Quando fizerem planos não queiram segui-los rigorosamente. Se os textos tiverem vida própria, vão seguindo o próprio caminho, nós só os vamos orientando.

Vasco Ferreira, 10 anos, Colégio Luso Internacional do Porto

Sente-se famoso por ser quem é?

Não! Não sei quem sou! Há pessoas que me conhecem e lêem os meus livros, mas isso não é fama nenhuma. Quem tem fama são os futebolistas, os escritores não, embora alguns trabalhem para isso.

Daniela Vaz, Daniela Palma, Cristina Dias e Ana Rita Ribeiro

7º ano, Escola Básica Integrada Patrício Prazeres, Lisboa

Qual é o seu próximo livro, já tem ideia ou é segredo?

Não tenho ideia nenhuma. Sei que tenho de fazer uma peça de teatro para a companhia Pé de Vento, mas ainda não sei sobre que assunto. Se tiveres uma ideia eu compro! (risos)

Daniela Vaz, Daniela Palma, Cristina Dias e Ana Rita Ribeiro

7º ano, Escola Básica Integrada Patrício Prazeres, Lisboa

Por Joana Fillol publicado in http://aeiou.visao.pt/

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