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Papiniano Carlos (1918-2012)

Papiniano Carlos (1918-2012)

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9.
AS MÃOS E OS VENTOS

Das palavras amordaçadas em nossos lábios roxos
nascerão ventos,
nascerão ventos.
E nascerão mãos
para conduzir os ventos. 

8.
PAISAGEM

Aqui, erecto,
No cimo destas fragas
me confundo:
O rio serpeia lá no fundo
do carrascal
sem barcos nem vagas
E o mundo
são estes cardos, estas fragas,
e o meu olhar animal.

7.
Um galo canta
na manhã futura.
Seu canto espanta
a noite escura.

Abre-se, floresce
como um clarim.
Ou será que amanhece
dentro de mim?

Aqui, onde
tudo acaba e principia:
sol que nunca se esconde,
noite que sempre foi dia.

Publicado in As florestas e os ventos, edição do autor, 1952, página 17, edição fac-similada da Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto

6.
Na fome verde das searas roxas
passeava sorrindo Catarina. 

5.
O Sol
brilhava agora
cheio de alegria
e sacudia
a luz
da sua imensa cabeleira
sobre o mundo. 

4.
Na fresca da manhã
que arrepio suave!:
porque não vens, meu amor,
comigo ser ave?:

(Ser sonho, ser vento
e este pensamento
tão suave…) 

3.
Nas ruas exaustas de morte e silêncio,
entre rios mortos e áspera solidão,
passeio contigo, Afonso Duarte. 

2.
Antes isto fosse
mãos e pés verdadeiros 

1.
Belo é ver florir os galhos
das velhas árvores.
E ver chegar as aves
que voltam do Sul. 

Escritor português, Papiniano Manuel Carlos de Vasconcelos Rodrigues nasceu em Lourenço Marques (atualmente Maputo), capital de Moçambique, no ano de 1918.

Cedo se fixou no Porto, onde concluiu os seus estudos secundários. Matriculou-se depois na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, onde conheceu Jorge de Sena. Contrariamente a este, Papiniano Carlos não chegou a concluir o curso, largamente preterido pelas suas aspirações literárias.

Divulgador incansável da poesia africana de expressão portuguesa, foi colaborando em publicações literárias que vieram a assumir um carácter de importância, como sendo a Seara Nova, a Vértice, a Bandarra e as Notícias do Bloqueio, que eventualmente dirigiu.

Em 1942 publicou o seu primeiro livro, uma coletânea de poemas intitulada Esboço que, com os volumes que seguiram, como Ó Lutador (1944), Poema da Fraternidade (1945), Estrada Nova (1946), o tornaram num nome de destaque de entre os poetas neorrealistas portuenses. Poetas que, pela sua combatividade, ficaram conhecidos como a “Geração de 50”. Esteve portanto associado a nomes como Egito Gonçalves, António Rebordão Navarro, Daniel Filipe e Luís Veiga Leitão.

Estreou-se como contista em 1946, ao publicar Terra com Sede, prosseguindo as suas contribuições para o género com o híbrido As Florestas e os Ventos (1952). Com uma obra poética bastante dispersa, caracterizada pela riqueza anafórica e pela redundância simbólica, compilou ainda alguns volumes de sucesso, como Caminhemos Serenos (1957), Uma Estrela Viaja na Cidade (1958) e o célebre A Menina Gotinha de Água (1962), vocacionado para o público infantil, pelo qual Papiniano Carlos nutria grande estima. Também para crianças compôs Luisinho e as Andorinhas (1977), O Cavalo das Sete Cores e o Navio (1980), O Grande Lagarto da Pedra Azul (1986) e A Viagem de Alexandra (1989). De referir também o seu único romance, O Rio na Treva (1975), e uma crónica, A Rosa Noturna (1961).

No que diz respeito à sua atividade política, salienta-se sobretudo a apresentação pública de uma tese, “Europa Nova: Portugal Novo”, no âmbito do 3.º Congresso da Oposição Democrática, ocorrido em Aveiro na primeira semana de abril de 1973.

Sito in http://www.infopedia.pt/

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