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Zilda Cardoso

Zilda Cardoso

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O que me inspira? (para a escrita deste tipo de textos…) Tenho várias musas. E também um sentimento. A primeira musa e a mais importante é a paisagem. Da minha varanda, vejo o mar, o céu, as nuvens, o Sol, os barcos, o misterioso horizonte… 

21. Estou certa de que este mar, hoje, aqui e até ao horizonte está coberto de estilhaços de um espelho fulgente de gigantesca amplitude. Alguém muito poderoso o terá quebrado por brincadeira e os fragmentos – os estilhaços – cobrem agora toda a superfície fluida, em frente a mim. 

20. Dizem que sou privilegiada, penso que o conquistei: este lugar. Vejo um mundo imenso da minha janela. É verdade: imenso! Parece infinito. Continuo a vê-lo, apesar dos acontecimentos recentes: mar, rio, rochas metamórficas, areia crestada, terra/cidade dura e sólida e nuvens brancas sobre céu azul quase transparente e líquido. 

19. Apenas quero falar do que não deixará raízes. Simplesmente me interessa isso e o que não partiu de raízes. Assim, falarei do que é superficial e vago, indecisamente azul e odorífero. Se nos é dado viver um dia de cada vez, não sei por quantos dias, então é assim que deve ser – sem pensamentos difíceis nem de passado nem de futuro. Cada coisa é o que é e nada mais; sem razão para querer ir mais longe ou/e mais fundo. 

18. Vivi muito pouco tempo na rua do Almada, no Porto, ou dos Almadas, como eu gostaria de lhe chamar. Foi há muitos anos e nunca tinha lá voltado. Fui visitá-la ontem. Dizem que é uma rua cheia de história, acredito. Continua a ser. Confirmei um pouco na internet, vale a pena pesquisar. 

17. Tantos acontecimentos, tão poucos dias. Arrasada estou. Um pássaro cinzento ainda implume, cai de um ninho algures. É um bebé, recolheu-se na minha janela, entre as duas vidraças e aí ficou inquieto. 

16. Esteve um dia esplêndido de luminosidade e de temperatura, um mar tranquilo e azul, um céu sem nuvens (apenas um sombreado em certos pontos). 

15. É um daqueles dias de especial interesse para mim porque velado por um véu translúcido que tapa e destapa, deixa ver ou adivinhar, esconde, revela… dá que pensar. 

14. Desejaria saber comunicar o que descobri. Há várias horas que caminho nesta beira-mar, meditando, em busca de respostas importantes. 

13. Desejaria saber comunicar o que descobri. Há várias horas que caminho nesta beira-mar, meditando, em busca de respostas importantes. 

12. Qualquer experiência humana é radical – li algures. E acredito, referindo-se à experiência de uma vida. Mas também se aplica a qualquer pequena aventura do dia-a-dia. 

11. Ser solitário pode ser um luxo. No presente, é para mim muito negativo ser solitário. Solitário faz-me lembrar duas coisas: a lógica de Carroll bem clara em Alice do Outro Lado do Espelho e a jarra alta para uma flor só, sozinha e única, que procurei durante anos nas casas de velharias da cidade. 

10. Esta época da minha vida, que é nitidamente de retirada da maioria das actividades que me ocuparam até há pouco, é propícia a uma reflexão profunda e sobretudo tranquila e sensata sobre os problemas da vida. 

9. Passei em Moledo, Casa da Eira, estes últimos dias… O tempo esteve maravilhoso: sol brilhante, boa temperatura, cores tremendamente nostálgicas, perfumes a serem esbanjados, outonais, de frutos maduros e doces, matizados, esquisitos. 

8. Não sei bem o que é… é o que for, existe, não existe… Não sei bem o que é. Não posso definir. 

7. Não creio que este mar seja arrogante, como dizem. O caso é outro. Pode dar essa ideia quando se zanga e se atira contra os rochedos, lhes bate e os reduz, de facto, espatifando-os em mil pedaços que espalha e finalmente fixa noutros pontos. Onde acabam por perdurar durante séculos ou milénios. 

6. Era meado de Março, a temperatura alta para aquela hora da tarde… A folhagem do chão que, no fim do Verão estalava sob a rudeza dos meus pés ou rugia mesmo, mais tarde… apenas um murmúrio me permitia escutar, se com atenção, o que dizia. 

5. Devo redefinir a palavra MAR. Segundo o que vejo hoje, não posso chamar mar ao que habitualmente chamo mar. O que hoje vejo é uma colcha de seda brilhante e selvagem, activa, com cores cujos tons tornam a sua cor indefinida. E os brilhos são apenas seus movimentos delicados e aparentemente superficiais. 

4. O que vejo da minha janela é uma vastidão, dizem. É, com certeza, uma quantidade extensíssima de água – um lago – rodeado por qualquer coisa que a retém e que não tento descobrir. Não sei se é uma vastidão. 

3. Costumamos dizer e ouvir dizer que pensar dá muito trabalho, e que as pessoas em geral não gostam de pensar. Assim não apreciam ler porque ler dá que pensar. 

2. Um dia de calor na cidade 

1. As pontes da cidade 

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1 COMENTÁRIO

  1. Foi com surpresa que deparei com a reprodução deste meu artigo no Correio do Porto. E quero agradecer. Por vezes tenho pena que artigos com interesse geral não sejam mais lidos, mas não sei o que fazer para o conseguir para além de tentar escrever o melhor possível e de escolher temas não demasiado superficiais nem muito comuns, também não políticos…
    Obrigada.
    Zilda Cardoso

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