ELE ESTÁ em todo o lado. Do futebol à música, passando pela internet. Comenta, divulga, entrevista. Portista de gema, é figura omnipresente na rádio e na televisão. Liga-se a televisão e ele pode aparecer. Sintoniza-se a rádio e é provável lá estar a sua voz suave e forte. Do Porto, sem nunca se ter instalado em Lisboa, consegue ser hoje um dos rostos constantes no universo RTP. E Álvaro Costa é mesmo Porto, orgulhosamente Porto, mesmo que muitos o vejam como homem do mundo, especialmente depois de ter passado temporada grande em Los Angeles e em Londres. «Adoro a capital, tenho muitos amigos e vou lá muitas vezes. Aliás, preciso da capital! Mas a verdade é que só troco o Porto se me convidarem e me pagarem bem! E nunca surgiu aquela oportunidade ou o projeto que me obrigasse a isso. Se um dia surgir? Faço as malas, sim. Gosto muito do Porto, mas o Porto é uma parte do mundo e eu não me considero representante da cidade nem porta-voz.»
O segredo de Álvaro Costa é, segundo ele, ser sempre um divulgador entusiasta daquilo que ele próprio intitula «cultura pop». Um comentador dos tempos contemporâneos no que diz respeito à indústria musical ou ao futebol, novas tendências da ficção americana, ou até política de celebridades de Hollywood. Um comentador pop. Por isso, cobre festivais de rock, faz maratonas de comentários em coberturas televisivas de funerais de vedetas, é jurado em concursos televisivos e entrevista meio mundo.
Ainda hoje na rua, Álvaro Costa é reconhecido graças à apresentação de A Liga dos Últimos, o programa da RTP sobre futebol amador que se tornou popular – hoje dir-se-ia viral – e deu visibilidade a uma realidade portuguesa que nunca tinha tido tempo de antena. «No fundo, com o sucesso do programa, tornei-me uma espécie de bibelot dos 7 aos 70 anos. Sou ainda hoje muito acarinhado por pessoas que nem faziam ideia do que tinha feito antes. Lembro-me de num blogue ter surgido alguém indignado a queixar-se por estar a falar de música quando fui fazer o comentário à morte do Michael Jackson.»
A verdade é que Álvaro Costa já vai nos 52 anos… e muitos de uma carreira espalhada por vários ofícios. Ainda há bem pouco tempo, ele e Miguel Quintão apresentavam na Antena 3 o show radiofónico Bons Rapazes, em que, separados por trezentos quilómetros (Quintão está em Lisboa, Álvaro no Porto), conduziam diariamente duas horas com as últimas novidades musicais. De forma algo polémica, a direção da rádio cancelou o programa, originando múltiplos protestos dos fãs. Ainda na rádio, aos domingos à tarde, o magazine Álvaro.com, um espaço em que podem surgir convidados e especiais sobre efemérides musicais. Um programa de autor com um lado didático de história do rock’n’roll, um pouco como as suas já famosas palestras no Clubbing, na Casa da Música. «Sou melhor na rádio do que na televisão», confessa o próprio. «Preciso ainda de mais horas de televisão. Antes da Liga dos Últimos sentia-me como aqueles campeões do Mundial de Juniores de Riade, neste caso os jogadores como o Valido, o Resende e companhia, que não foram tão longe.»
Mas também na TV há Álvaro a toda a hora. Aos sábados, na RTP 1, no Planeta Música, apresentado por Luísa Barbosa, em que ele é o especialista de serviço. Álvaro Costa serve como enciclopédia e comentador. Também na RTP, mas na Memória, é o cicerone do magazine musical Top of the Pops, versão portuguesa de um clássico da televisão inglesa. Aí aborda memórias e faz lembrar o Álvaro dos anos 1980, onde promovia os videoclips na RTP com Videopólis. Na RTP 1 é presença vital no Grande Área, o programa de futebol que analisa a jornada da Liga Portuguesa, aos domingos. E aí é ele quem está na net, em direto, a mostrar o outro lado do fenómeno do futebol e a interação com os fãs da bola. Na mesma RTP 1, todas as semanas vai ao noticiário fazer o seu comentário pop. Pode falar da morte de uma estrela ou contextualizar uma operação de marketing de um anúncio de uma tournée mundial.
Nas plataformas digitais, tem no ar o ACNN (quer dizer Álvaro Costa News Network), magazine onde cruza toda a cultura pop contemporânea. Mais do que ninguém, é dos que acredita que o maior microfone pode estar na net, embora tenha sido dos últimos a aderir ao Facebook. «Penso que me soube reinventar como artista do cabo, ou seja, ao jeito da televisão por cabo à americana, onde é possível ter liberdade para criar. É claro que para estar a fazer tanta coisa tenho de pedir ao meu avatar para sair à noite enquanto fico a preparar isto tudo em casa», conta de forma casual.
Aos que o acusam de ser doente do FC Porto quando surge em programas desportivos, recusa a acusação. É do FC Porto, mas em programas como o Grande Área ou Pontapé de Saída acredita ser sempre neutral. «Se formos falar de futebol apetece-me é dizer que estamos demasiado minados pelo clubismo doentio e pela falta de noção de espetáculo. O futebol nacional deveria estar mais virado para o showbizz. Por exemplo, os treinadores têm hoje de ser mais rock stars.» Dele, diz-se que, além de ser realmente acarinhado pela gente do Norte, também é conhecido por ser amigo de figuras do poder, quer empresarial quer futebolístico. Rezam as lendas que é um dos primeiros a saber das contratações desportivas. Esse lado de bastidores é algo que o próprio cultiva com humor. Que em geral vive de uma subtileza referencial e das experiências de ser um pai de uma menina de 12 anos com conhecimentos pop precoces.
Para conseguir ser um opinion maker na música e ao mesmo tempo ter credibilidade quando surge nos programas desportivos a gerir as reações na esfera digital, é preciso ser transversal. «Agora saio muito menos, mas passo muito tempo em casa ligado ao mundo. Neste momento, estou muito interessado em política internacional. Sei que ao dizer isso posso levar aquelas bocas de ser comparado ao Nuno Rogeiro… Mas já fui chamado de Nuno Rogeiro do rock. Nuno Rogeiro é uma figura pela qual tenho a maior simpatia. Enfim, gosto muito dessa ideia multifacetada. Reparto-me perante várias áreas porque a energia da nossa sociedade assim o dita. As redes sociais dinamitaram o conceito de comunicar.»
Apesar de tudo, com tanto a acontecer, tem ainda um desejo: «Quero pôr-me em causa. Gostava de fazer um programa da manhã, uma coisa mais mainstream. Queria tentar perceber até onde sou capaz de ir sem perder as minhas caraterísticas. Ao contrário do que parece, fazer um programa da manhã é tudo menos fácil. Conheço programas matinais estrangeiros cujo formato poderia ser bem adaptado. As manhãs precisam de ser mais rock’n’roll.»Brevemente mais AC perto de si…
Em preparação está um livro com os encontros de Álvaro Costa com as figuras da «pop cultura». O próprio designa-as de «histórias da carochinha». Terá o título bizarro de E a Matemática, Filho? que serve como homenagem ao pai. «Será uma coleção de encontros imediatos e objetivos com o mundo do showbizz. É um livro de um arquivista e estudioso da cultura pop.»
Outro dos projetos a estourar é a AC.TV, um canal de televisão digital, que será à base de entrevistas e comentário sobre a cultura showbizz nacional e internacional. Para já, disponível no Facebook e depois de virem os sponsors sabe-se lá onde. «Dá-me muito gozo fazer TV da era digital!» Fica a confissão do homem que continuará a estar em todo o lado e que acha uma piada dos diabos o seu auditório estar bastante fragmentado.
Por Rui Pedro Tendinha publicado in http://www.jn.pt/revistas/