A VIVI e o Copi estão agora em Soplin Vargas, no norte do Peru, na fronteira com a Colômbia. Foram de Ermesinde até à selva amazónica como Leigos Missionários da Consolata. Já estiveram em Itália e na Tanzânia. Têm um trajeto religioso e afetivo quase paralelo. Foi só confiar e seguir em frente, ou melhor, casar e voar até à missão.
Por Paulo Moreira Lopes
1– Data de nascimento e naturalidade (freguesia e concelho)?
9 de Setembro de 1981, Paranhos – Porto.
2 – Atual residência (freguesia e concelho)?
Em Portugal: Ermesinde – Valongo. Neste momento, Soplin Vargas, Loreto – Peru.
3 – Escolas/Universidade que frequentou no distrito do Porto?
Escola Primária da Costa (Ermesinde), Escola Primária das Saibreiras (Ermesinde); Escola EB21 S. Lourenço (Ermesinde) e Escola Secundária de Ermesinde.
4 – Formação académica?
12.º ano.
5 – Atividade profissional?
A minha última actividade profissional em Portugal foi de empregado de escritório numa PME de pisos de madeira (Enceradora do Bonfim). Neste momento estou em Missão na fronteira Colômbia – Peru, realizando trabalho voluntário no âmbito da evangelização e promoção humana, como Leigo Missionário da Consolata.
6 – Em que medida o local onde viveu ou vive influenciou ou influencia o seu trabalho (vocação?) por referência a fenómenos geográficos (paisagem, rios, montanha, cidade), culturais (linguagem, sotaque, festividades, religião, história) e económicos (meio rural, industrial ou serviços)?
O que mais influenciou a minha opção vocacional foi talvez a presença de uma casa dos Missionários da Consolata perto de mim. A partir desse contacto nasceram sonhos e esperanças sobre o meu futuro na Missão: ser missionário para a vida!
7 – Endereço na blogosfera para o podermos seguir?
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1 – Data de nascimento e naturalidade (freguesia e concelho)?
14 de Junho de 1983, Ermesinde-Valongo.
2 – Atual residência (freguesia e concelho)?
Atual, Soplin Vargas – Peru. Em plena selva amazónica.
3 – Escolas/Universidade que frequentou no distrito do Porto?
Primária e Secundária em Ermesinde; Escola Superior de Educação do Porto e ISMAI.
4 – Formação académica?
Bacharelato em Tradução e Interpretação de Língua Gestual Portuguesa, Licenciatura em Psicologia e Mestrado em Psicologia Clínica e da Saúde.
5 – Atividade profissional?
Aqui na missão temos de fazer um pouco de tudo, mas estou a começar a integrar-me como Psicóloga apoiando principalmente os jovens. E, claro, todo o trabalho missionário, como já disse o Rui.
6 – Em que medida o local onde viveu ou vive influenciou ou influencia o seu trabalho (vocação?) por referência a fenómenos geográficos (paisagem, rios, montanha, cidade), culturais (linguagem, sotaque, festividades, religião, história) e económicos (meio rural, industrial ou serviços)?
Realmente nunca tinha pensado nisso, com certeza que foram imensos fatores, mais do que aqueles que posso discriminar. Mas especificamente em relação à vocação missionária, foi a presença dos Missionários e Missionárias da Consolata e o testemunho de vida de alguns deles que me fez sonhar com uma vida semelhante.
7 – Endereço na blogosfera para a podermos seguir?
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Onde se encontram neste momento?
(Copi e Vivi): A viver numa pequena comunidade chamada Soplin Vargas situada no norte do Peru, na fronteira com a Colômbia, dentro da região Amazónica.
Como descrevem Soplin Vargas e as pessoas que aí vivem?
(Copi e Vivi): Soplin Vargas é um Município muito pequeno e no qual vivem cerca de 600 pessoas. A este município pertencem 34 comunidades (aldeias). A maioria da população é indígena, mas mesmo em Soplin vivem pessoas que vêm das cidades para exercer os cargos públicos, pois em Soplin infelizmente as pessoas não têm acesso a tal formação.
Soplin tem uma Câmara Municipal, um Centro de Saúde, um Banco, uma Escola e Internado, e diferentes instituições que apoiam o desenvolvimento rural, mas apesar de tudo isto na realidade não difere muito das aldeias, “é uma aldeia maior do que as outras”.
As pessoas nativas de Soplin vivem uma vida muito simples entre o trabalho no campo, a pesca e caça, e os afazeres domésticos. As famílias são alargadas e as jovens têm o seu primeiro filho muito cedo, mais ou menos aos 16 anos.
Sobre o facto de serem indígenas, e ao contrário de outras culturas semelhantes, aqui manifestam as suas raízes através de rituais e tradições, tais como a Minga, um trabalho comunitário em prol de uma família específica. A imagem de um índio sem roupa e com penas aqui ainda não encontramos, exceto nos momentos de festa!
Qual a reação da população local à vossa iniciativa?
(Copi e Vivi): Em primeiro lugar admiração, não é todos os dias que aparece um casal de jovens europeus que decide viver com eles. Depois chega alguma desconfiança pelo simples facto de sermos brancos (brancos são todos aqueles que não são indígenas, mesmo que sejas africano!). E finalmente, com o tempo e o convívio começam a aproximar-se.
Contudo, a nossa presença tem um objetivo muito claro que é ajudar a formar uma comunidade católica onde não existe essa presença. Soplin está a desenvolver-se como Município e para tal foi pedida a presença da Igreja Católica, nós estamos a responder a esse pedido e, por isso, as pessoas ficam ainda mais felizes com a nossa presença.
Em que medida o meio ambiente contribui para a maneira de ser desse povo?
(Copi e Vivi): Viver na selva implica viver da selva, ou seja, têm de saber caçar, escolher madeira para a casa, para os barcos, saber desde pequeno conduzir diferentes barcos, conhecer as árvores e os frutos que valem a pena colher… Enfim, é uma vida totalmente diferente, o tempo não é controlado pelo relógio, a vida é mais pacata e simples. Se tenho como, se não tenho não como.
Mas a globalização também chega a estes lugares, os que vivem em Soplin têm mais acesso ao mundo (TV, Internet, luz, etc), apesar da grande maioria não ter condições económicas para esses luxos.
Contem-nos um pouco do vosso dia-a-dia.
(Copi e Vivi): Bem, é importante lembrar que apesar de termos chegado à missão em Novembro de 2010, só no passado mês de Agosto é que fomos viver para Soplin, até ao momento apenas a tínhamos visitado. Por este motivo, e porque vivemos na selva, o dia-a-dia diverge muito. Se tens luz fazes umas coisas, se chove ou se faz muito sol já tens de mudar os planos. Claro que temos um programa a seguir. Agora estamos dedicados à construção de uma Maloca (um lugar onde celebraremos a Eucaristia e outras atividades de pastoral e promoção humana), e uma casa para os Missionários (pois estamos a viver os dois no Centro de Saúde). Também temos programado começar a trabalhar como Psicóloga (Vivi) apoiando o centro de saúde e o município em geral, e como Professor de Religião (Rui). E claro, fazer a Celebração da Palavra ao Domingo (temos de ser nós porque não existe um padre por agora a viver aqui), assim como outras atividades relacionadas com a igreja: grupos coral, catequese e outros encontros.
Como tudo em Soplin, a maioria dos nossos dias são simples e só o facto de passearmos pelo povo todos os dias já ajuda na nossa integração.
Como chegaram aí espiritualmente?
Copi: A minha história espiritual é digna de um nobel J, e começou desde muito pequeno. Encantado pela forma de celebrar a Eucaristia de um padre Missionário da Consolata, também quis ser um padre missionário. Com o passar dos anos essa ideia nunca se concretizou, mas a inquietude ficou. Já a frequentar o grupo juvenil dos Missionários da Consolata, conheci a Vivi e juntos começamos a partilhar não só o amor mas também o desejo de sermos Leigos Missionários da Consolata e partir em Missão. Já com esse fim em vista, em 2005 viajamos até à Tanzânia para conhecer a Missão mais de perto e onde, supostamente, concretizaríamos a nossa vocação missionária. Mas ainda não era esse o projeto de Deus para mim… Depois de 5 anos de namoro (começamos em 2001) terminei a relação para ir responder à inquietude que me ficou no coração, e entrei para o seminário. Saí de Portugal para ir para o seminário em Itália com a certeza que iria ser padre e passados 6 meses regressei com uma certeza ainda maior: esse não era o caminho que Deus tinha pensado. Como não tinha deixado de amar Viviana e, com alguma sorte, ela também não, retomamos o namoro e abraçamos de alma e coração a vocação laical. Casamos em Julho de 2010 para em Novembro partir em Missão. Aqui aprendemos a ser melhores cristãos, melhores pessoas, mas sobretudo aprendemos a ser melhores esposos! Não pensem que a história acaba aqui pois o futuro a Deus pertence e cá estarei para continuar a responder generosamente com um grande SIM!
Vivi: Desde pequena que frequentei a catequese e levei a formação até ao fim, apesar de ser sempre um pouco inconformada com algumas orientações. Mas já na adolescência encontrei um casal de Leigos Missionários da Consolata (Sílvia e Jota) que me mostraram que era possível (e interessante) viver um papel diferente dentro da Igreja Católica, e mais brilhante ainda, vivê-lo de forma missionária. As características de uma fé que não fecha os olhos à realidade, que respeita a diferença e a valoriza, e sobretudo que sai, que atua, que procura marcar uma pequena diferença… essa fé, essa espiritualidade que vivem também os Missionários e Missionárias da Consolata simplesmente cativou-me. E a melhor parte chegou mais tarde, quando encontrei alguém que partilhava o mesmo sonho, o mesmo desafio. Foi só confiar e seguir em frente, ou melhor, casar e voar até à missão!
Projetos para o futuro, leia-se, aqui no Porto (Distrito do Porto)?
(Copi e Vivi): O maior projeto que temos é o de constituir uma família e ter o nosso lar. A nível profissional também temos esperanças, apesar da grande crise em Portugal, que chegando alguma coisa apareça, preferencialmente nas nossas áreas. Claro que durante estes anos foram também surgindo alguns sonhos e projetos que gostávamos de realizar, vamos ver como correm as coisas quando chegarmos.
Em relação à vida missionária, queremos continuar a crescer na nossa vocação Missionária e quem sabe contagiar outros.