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Mota e Costa (1939)

Mota e Costa (1939)

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MOTA e Costa nasceu a 28 de Novembro de 1939 na freguesia de Gondar, onde ainda tem a sua residência. Cresceu no meio da música e por influência familiar, esse foi o caminho que viria a seguir. A sua ida para a cidade do Porto, muito jovem, permitiu-lhe conhecer músicos de grande dimensão. Não tardou em integrar-se em grupos de baile famosos na época. De volta à sua terra, Mota e Costa formou a mítica Festada do Tâmega, grupo de raízes populares que, durante mais de uma década, percorreu todo o país e estrangeiro, mostrando genuína música tradicional portuguesa.

A Mota e Costa se deve o sucesso, porventura irrepetível, do Festival da Canção do Tâmega, um certame que de topo no panorama musical português.

Desde 1993 que dirige a Orquestra Colúmbia, para além de se fazer ouvir a solo ou acompanhado em diversos eventos.

Como professor de acordeão já lecionou em Felgueiras, Fafe, Trofa e Porto. Atualmente dá aulas do seu instrumento preferido na Casa Música, em Amarante.

Do alto dos seus bem conservados 74 anos (quase), Mota e Costa é um dos amarantinos, cujo mérito ultrapassa largamente as nossas fronteiras.

SEM MARGENS – Como surgiu o gosto pela música?

MOTA E COSTA – Surgiu quando eu tinha 9 anos pela mão do meu pai, quando tinha a Tuna de Gondar. Eu via-os ensaiar num salão lá em casa e fui aprendendo o solfejo. Mais tarde ingressei na tuna, começando a tocar violão. Depois surgiu a ideia e a necessidade de ter no grupo um acordeão e eu comecei a aprender esse instrumento. Curiosamente, comecei a aprender acordeão aqui em Amarante num circo de alta classe, que trazia uma orquestra onde tinham um acordeonista. O meu pai falou com o saudoso Orestes Miranda, esse homem de categoria de Amarante e músico a sério, que pediu ao Sr. Eurico que vinha com o circo, o melhor da praça do Porto, para me ensinar. Aprendi com ele muita técnica de acordeão enquanto esteve aqui em Amarante.

Tinha 14 anos quando fui para o Porto estudar. Lá estudei com professores a sério, como foi o caso de um professor alemão de grande categoria que me deu muita técnica e que ainda hoje ensino aos meus alunos.

SM – O processo de aprendizagem era complicado?

MC – Muito complicado porque não havia a facilidade que há hoje de aprender. Agora há conservatórios por todo o lado mas aí o acordeão ainda não está vulgarizado. Só á dez anos é que o instrumento entrou autorizado nos conservatórios, criando mais interesse e os resultados não tardaram a aparecer. O maior professor de acordeão, que mais prémios tem dado a Portugal é o Vitorino Matono. O seu instituto tem dado campeões mundiais de grande categoria. Tenho o prazer de fazer parte do júri dos concursos nacionais ibéricos e encontro jovens a tocar altamente.

SM – Lembra-se do 1º grupo musical que participou?

MC – Fui para o Porto para o Instituto Industrial, que hoje é o Instituto de Engenharia. Lá tive colegas músicos de craveira e já nessa altura havia três bons conjuntos no Porto. Um deles do Pedro Osório, outro de um descendente alemão chamado Walter e o conjunto Freitas Morna. Comecei a tocar a sério no Conjunto Académico do Porto em 1957.

SM – Como apareceu a Festada do Tâmega?

MC – Quando regressei do Porto fui admitido pelas indústrias Tabopan e nessa altura a administração da empresa, entusiasmados com a música típica portuguesa, incentivaram-me a fazer um grupo folclórico que foi do melhor que havia em Portugal. Não foi só mérito meu, porque eu estudei a região com o credenciado professor Mota Leite, da FNAT, hoje INATEL. Também estudei com o Pedro Homem de Melo, com quem andei faz dois ou três anos a acompanhá-lo nas recolhas para os programas de televisão. Aprendi muito acerca do folclore neste país, mais concretamente nesta zona. Comecei a fazer o primeiro trabalho para a Festada do Tâmega, atendendo às limitações dos instrumentistas, onde eu era o solista com o acordeão e eles como acompanhantes. O primeiro convite para a Festada do Tâmega fazer um LP foi feito pela Valentim de Carvalho e a partir daí foi sempre a somar até chegarmos aos 10 LP’s com a mesma consagrada editora.

SM – E os espetáculos eram muitos?

Nessa altura fizemos espetáculos em todo e Portugal do Minho ao Algarve, em Espanha e fomos convidados para ir ao Brasil mas o trabalho não permitia sair 45 dias de contrato, porque era impossível faltar tanto tempo. Foi um bom grupo, sobretudo pela amizade e camaragem que tínhamos.

SM – O que tornou o grupo tão especial?

MC – Acho que eram os temas que escolhi: Sempre munido dos melhores cancioneiros deste país, tocávamos músicas genuínas. O folclore de hoje está mau. Não há verdade nos grupos quando tocam músicas dos outros, sem respeitar as tradições da sua região. Há apenas meia dúzia deles em Portugal que fazem um trabalho de pesquisa e recolha meritório.

SM – A escolha criteriosa do repertório resultou?

MC – Sim, resultou em pleno. A Festada do Tâmega teve dois discos de prata e um volume de vendas muito bonito, por isso a maior produtora deste país pegou em nós. Nessa altura não havia nada igual.

SM – Como terminou o grupo?

MC – Estivemos juntos cerca de 11 anos e era chegada a altura de fechar o ciclo, numa questão de inteligência. Nessa altura começou a haver rapazes estudiosos que eram grandes instrumentistas e eu pensei que não conseguia levar o grupo a um patamar mais elevado, com executantes amadores e decidi que era altura de parar. As necessidades harmónicas passaram a ser outras e só com grandes músicos era possível avançar.

SM – Depois, como foi o seu trajeto depois da festada?

MC – Eu comecei a preparar-me para lecionar. Fiz um grande estudo na Academia Santa Cecília e comecei a dedicar-me mais a ensinar acordeão, apesar de ter um grupo de baile. Também fiz muitas gravações de meter o acordeão em músicas em estúdio.

SM – Como surgiu a ideia do festival da Canção do Tâmega?

MC – O primeiro Festival da Canção do Tâmega aconteceu em 1979 no Amarante Cineteatro e o segundo teve como palco o Mercado Municipal. Depois, eu entendi que tínhamos que ir para o ar livre, para dar possibilidade de mais gente ver o evento. Passou a ser feito no Parque do Ribeirinho durante alguns anos, aproveitando um palco que lá tinha sido montado nessa altura para um festival migrante que aconteceu em Amarante.

SM – E como foi parar ao rio?

MC – Mais tarde eu achei que o festival tinha que ser feito em pleno rio. Todos me diziam que não podia ser, que era uma loucura. Mas, o que é certo, é que ele ali decorreu durante cinco até acabar em 1993, com o Festival dos Festivais, com os vencedores das edições anteriores.

SM – O festival tinha uma logística complicada?

MC – Se tivesse que voltar a fazer o festival o que mais me preocupava era o cheiro (risos). Arranjar areia e voltar a fazer o festival era uma tarefa que se podia voltar a fazer.

SM – Não ficou com a sensação que levou o Festival do Tâmega a um patamar muito elevado?

MC – A organização era uma grande equipa. Tinha um grupo muito bom, com muita capacidade de trabalho e dedicação. Fiquei com a sensação que Amarante ia perder um grande espetáculo. A TVI chegou a fazer-me muitas propostas para patrocinar por inteiro o festival. Nunca aceitei com o medo de se vir perder as características únicas e mesmo porque os festivais que são impostos pelas televisões não são grande coisa, nem agradam ao público.

SM – Esse festival chegou a ser catalogado como o 2º festival da canção do país, a seguir ao da RTP. Como conseguiram tamanha envergadura?

MC – Foi preciso trabalhar muito e dedicadamente. Lembro-me que no último festival gastamos cerca de 12.000 contos. Tínhamos grandes gastos na logística do evento. Montar o palco no rio, fazer uma ponte em madeira para a margens, levar som e luzes para a ilha e outras coisas fazia aumentar muito o orçamento.

SM – Ainda é possível, um dia, voltar a fazer o festival?

MC – Não há nada impossível. Se as pessoas quiserem tudo bem. É preciso notar que, nessa altura, eram as empresas que pagavam o festival, porque a câmara dava pouco. Toda a gente nos abria as portas para contribuir.

SM – Como tem sido agora a sua vida musical?

MC – Dediquei-me ao ensino, sobretudo no acordeão, onde tenho tido bons resultados. Continuo a tocar em alguns sítios onde sou contratado.

SM – Tem algum projeto musical em mente?

MC – Estou a fazer uma orquestra de acordeões com alunos meus. Uma orquestra mais pequena mas que seja um projeto bonito e bem tocado. Já vamos começar a ensaiar neste mês de outubro.

SM – Sente muita nostalgia dos antigos bailaricos?

MC – Sinto muita nostalgia dos bailaricos de alta categoria que se fazia antigamente. Amarante foi palco do melhor baile do país que era o baile de junho. Voltei-o a fazer nos claustros quando era elemento da comissão de festas, uma autêntica parada de gente rica que vinham a este cidade participar. Tivemos sempre grandes grupos a atuar e o serviço impecável da saudosa Lai Lai. O tradicional baile que fechava as festas do junho, no domingo à noite, durou mais de 100 anos.

Amarante ainda teve um outro baile famoso que foi o baile organizado pelos bombeiros, que era no parque florestal, chamado Baile do Parque. Depois vieram as discotecas e outra maneira de dançar e bailar e tudo isso acabou. Anualmente faz-se no Palácio da Bolsa um baile de gala para ajudar a Liga Portuguesa Contra o Cancro e é das poucas coisas que se vai fazendo à moda antiga.

SM – Qual a mensagem que quer enviar aos jovens músicos amarantinos?

MC – Os responsáveis pela cultura em Amarante deveriam dar a conhecer aos amarantinos, mas não é numa sala pequenina, os músicos que estão formados ou à beira disso, para mostrar que aqui há gente de muita categoria a tocar, como o Delfim, o Henrique e outros.

SM – E o Mota e Costa vai tocar até quando?

MC – Vou tocar até quando eu puder, podem ter a certeza disso. Todos os dias toco para ter os dedos sempre treinados.

Por DC in http://www.semmargens.com/

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