NATURAL da Póvoa de Varzim onde nasceu em 1931, Maria Alberta Gomes é licenciada em História e especialista em História de Arte e História Contemporânea. Publicou várias biografias e monografias da sua família. Destaque para as monografias: “Maria Doceira – Primeira Doçaria da Póvoa de Varzim” e “Lugar da Amorosa. Ontem e Hoje” dedicado a seu marido. Em 2008 publicou o livro de poesia “O Mar Por Amor”. Em 2012 publicou a biografia “Alberto Gomes – Obra Literária”, dedicada a seu pai.
A Voz da Póvoa – Qual é o olhar e o sentimento que sente pela Póvoa de Varzim?
Maria Alberta Gomes – A Póvoa é o meu berço. É o lugar onde comecei a amar o mar, à medida que os anos foram avançando. Vivo em Viana do Castelo há mais de 50 anos, sempre carregada de saudades da minha terra. A mesma saudade que o meu pai e a minha mãe, poveiros de gema, viveram. Quando parti, a Póvoa de beleza só tinha o mar, as pessoas e a sua cultura. Hoje está muito mais bonita.
A.V.P. – A que se deve este afastamento sem regresso?
M.A.G. – O meu pai foi colocado como professor de música no Liceu de Viana e tive que acompanhá-lo. Depois casei com o pai dos meus três filhos, que era engenheiro da direcção de Urbanização de Viana do Castelo. Como o meu pai nunca conseguiu uma vaga na Póvoa, cidade que tanto lhe deve, optou por não me abandonar, uma vez que a minha residência tinha que ser Viana necessariamente.
A.V.P. – O que destacaria verdadeiramente na pessoa de seu pai?
M.A.G. – O músico, o homem e o grande poveiro que foi. O meu pai dirigiu a banda do avô com nove anos e o terceto do qual fazia parte com os dois irmãos mais novos, a partir dos 10 anos. Fundou o côro Capela Alberto Gomes e criou um côro em cada igreja da Póvoa. Foi um dos fundadores e primeiro violinista da Orquestra sinfónica do Porto. A sua obra é simultaneamente musical e literária.
A.V.P. – Quem foi para si o grande mestre da música na Póvoa de Varzim?
M.A.G. – Foi o meu avô António José Gomes, criador do Scol dos Martas. Ficou conhecido por Marta porque vivia com uma irmã com esse nome. Os filhos ficaram os Martas. Foi autor dos hinos do Clube Naval e dos Bombeiros e mestre da banda, A Poveira, conhecida pela banda dos malhados. Vivia-se o tempo da guerra mundial. Como não havia dinheiro para as fardas, cada um vestia o seu fato. Como eram todos diferentes passou a chamar-se a banda dos Malhados.
A.V.P. – A música está nos genes da sua família há muitas gerações…
M.A.G. – É um facto. Aos 15 anos eu já tinha o curso geral de piano, sob a direcção artística de meu pai. Tal como o meu tio Martinho, violinista, nunca toquei para um público que não fosse a família. A música é como uma pele de toda a família, incluindo os meus três filhos, que estudaram música com o avô. O piano a flauta e o violino foram sempre os instrumentos de eleição.
A.V.P. – O que a levou a escrever as biografias da família?
M.A.G. – Senti que havia necessidade de registar para a posterioridade o que os meus familiares fizeram. Primeiro a minha tetravó, Maria Vitória da Conceição, fundadora da primeira doçaria na Póvoa. Depois o meu pai, o meu avô e os meus tios, pessoas muito importantes na cultura poveira. O gosto que há hoje na Póvoa pela música é a eles que se deve. Ao meu marido dediquei uma monografia sobre Amorosa.
Por José Peixoto in A VOZ DA PÓVOA