PARA Carlos Mensil o princípio chegou dentro de uma caixa de lápis-de-cor. Depois foi só espalhar cor pela casa dos pais (seria vandalismo?). Não queria mais nada: era vê-lo então satisfeito com as suas desconstruções. Tudo começou em Santo Tirso, onde nasceu e reside. Entretanto veio estudar para a faculdade de Belas Artes do Porto e aqui instalou ateliê. Foi nesta última cidade que as relações com a criatividade se tornaram mais densas, alimentando agora toda a sua produção, sem fazer esquecer as amizades que cedo desenvolveu e que ainda perduram.
Por Paulo Moreira Lopes
1 – Data de nascimento e naturalidade (freguesia e concelho)?
27 de Junho de 1988, Santo Tirso.
2 – Atual residência (freguesia e concelho)?
Vivo em Santo Tirso, mas trabalho no Porto.
3 – Escolas/Universidade que frequentou no distrito do Porto?
Escola Secundária D. Dinis, em Santo Tirso. Posteriormente, Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto.
4 – Habilitações literárias?
Licenciatura em Artes plásticas e, mais tarde, o Mestrado em Pintura pela mesma instituição (FBAUP)
5 – Atividade profissional?
Artista Plástico.
6 – Em que medida o local onde viveu ou vive influenciou ou influencia o seu trabalho artístico/literário/profissional por referência a fenómenos geográficos (paisagem, rios, montanha, cidade), culturais (linguagem, sotaque, festividades, religião, história) e económicos (meio rural, industrial ou serviços)?
Em tempos, quatro pedras e uma estrada faziam um campo de futebol; e uma fisga no bolso, proporcionava uma ‘animada’ brincadeira entre amigos; …
Mas antes, a relação mais imediata que desenvolvi foi com uma caixa de lápis-de-cor que me passou uma rasteira lançando-me directamente ao tapete. E o tapete foi apenas a primeira vítima dos vários actos de vandalismo que a minha casa viria a sofrer. O papel que outrora revestia parte das paredes de minha casa era o mais claro sinal de que eu ainda em tenra idade, e ao contrário do que todos à minha volta pensavam, acreditava que a desconstrução traria alguma coisa; e se os rasgos na parede não eram clarificadores dessa ideia, a satisfação que a minha cara demonstrava ao fazê-los levava os meus pais a questionar tudo.
O tempo que dispunha para fazer coisas era muito. Para pensar nelas também. Ainda hoje guardo as peças que não ofereci a todos os que andavam à minha volta.
Inicialmente, os trabalhos que fazia tinham directamente que ver com três coisas. Uma: desenhos-animados que ainda hoje procuro pela internet – coisas que iam desde o mais infantil que se via na Rua Sésamo, o mais fantástico do Dragon Ball, e ainda, um dos meus preferidos, Ren & Stimpy e as suas mais macabras aventuras; Duas: as relações com as pessoas que me eram mais próximas – onde cartas escritas à máquina e trabalhadas como se fossem uma escultura eram uma constante; Três, e talvez a fonte mais proveitosa de impulsos para construir coisas: os animais de estimação que tive e a natureza do habitat que ocupavam.
Mesmo com o tempo preenchido pelos pequenos devaneios, mais compreensíveis num miúdo de 9 anos do que num de 25, muito cedo desenvolvi amizades que ainda hoje tenho a sorte de manter, com pessoas que convivo quase diariamente. Sorte maior é quase todos serem de áreas completamente distintas mas sempre abertos aos devaneios mais particulares. Devaneios esses que, muitas vezes de forma inconscientemente, se tornam parte integrante do meu trabalho.
No momento em que venho para o Porto, e mergulho num meio cultural mais alargado, os ‘problemas’ multiplicam-se e as histórias misturam-se. Assim, a rede pela qual pensava torna-se cada vez mais densa. E a Faculdade foi, até certa altura, o epicentro de todos os problemas de que me queria ver rodeado.
Hoje, embora já não na Faculdade, muitos destes mesmos problemas vieram comigo. E são estes problemas, e outros tantos que vou coleccionando obsessivamente, que vão alimentando toda a produção.
7 – Endereço na web/blogosfera para o podermos seguir?
Publicado originalmente em 28 de janeiro de 2014