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Levantamento do Mastro em Fonte Arcada

Levantamento do Mastro em Fonte Arcada

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AO dia 25 de Julho, a freguesia de Fonte Arcada (Penafiel) pára. Novos e velhos, mulheres e homens saem à rua para participar no “Levantamento do Mastro”, uma tradição ancestral que, na última sexta-feira, repetiu-se. Há até quem venha de países como Espanha, França, Alemanha ou Angola para não perder um costume que promete dar virilidade aos participantes masculinos.

O “Levantamento do Mastro” atrai ainda centenas de curiosos ao monte de São Domingos, local onde o eucalipto com cerca de 30 metros de comprimento fica colocado durante 15 dias.

60 homens para transportar árvore com 30 metros

A festa popular começa ao início da tarde, com a saída do grupo de bombos e dos tractores da igreja. Ao longo do caminho, o cortejo vai engrossando com mulheres, mas sobretudo com homens que se deslocam até ao monte onde, nos dias anteriores, foi identificado o eucalipto com as características ideais para ser transformado em mastro. “É a comissão de festas, nomeada no ano anterior, que escolhe a árvore e que vai pedir ao dono do terreno para a cortar”, refere Gabriel Santos. Na maioria das vezes, o eucalipto é oferecido, mas já houve ocasiões em que foi preciso pagá-lo. Uma coisa é certa, o eucalipto tem de ter cerca de 30 metros e ser o mais direito possível.

Este ano, a árvore seleccionada estava a crescer numa mata situada a cerca de três quilómetros do centro de Fonte Arcada e foi aí que dezenas de pessoas se concentraram para ver Gabriel Santos cortar, sozinho, o futuro mastro. Com a árvore por terra, é tempo de confirmar se esta atinge os 30 metros exigidos pela tradição. A deste ano alcançou a marca com uma precisão quase cirúrgica, mas já houve outras que tinham uns bons metros a mais e que eram bem mais grossas. “Depende do número de pessoas que temos para transportar a árvore”, explica Gabriel Santos.

Na sexta-feira eram mais ou menos 60 os homens – as mulheres estão impedidas de o fazer – que se prontificaram a carregar o mastro. Divididos em grupos de quatro, usaram, como de costume, paus também cortados no monte para colocar o eucalipto às costas. E se os primeiros metros foram feitos de ânimo leve, em mais de metade do percurso – que dez anos depois voltou a passar pelos caminhos em terra marcados pelas ingremes subidas – foi impossível disfarçar a máscara de esforço. Nem as frequentes pausas para beber uma cerveja ou um copo de vinho oferecidos pela população atenuaram a dificuldade que assusta quem vê de longe.

Tradição para manter a virilidade

Mesmo assim, três horas depois ter saído da igreja, o cortejo chegou ao monte de S. Domingos, onde dezenas de pessoas já se encontravam à espera. Pousado o mastro, foi tempo de o enfeitar com as hortênsias colhidas nessa manhã. Uma tarefa rejeitada por quem suportou o eucalipto de 30 metros durante pouco menos de cinco quilómetros. Esses preferiram refugiar-se na improvisada taberna e deixar que as mulheres, crianças e idosos decorassem o mastro a seu gosto.

Já no final da tarde, com cada vez mais visitantes no monte de S. Domingos, foi tempo dos mesmos homens que transportaram o eucalipto levantá-lo apenas com recurso a cordas e à força dos braços. O mastro, que diz a tradição mantém a virilidade de quem lhe tocar, ficará ao alto durante os próximos 15 dias e é motivo suficiente para se realizarem frequentes convívios regados a vinho e abastecidos com os mais variados petiscos.

Gabriel Santos é o homem do machado

Gabriel Santos é o homem do machado. É ele quem tem a tarefa de, sem qualquer tipo de ajuda, cortar o eucalipto que será levantado no alto do monte de S. Domingos. Fá-lo há 20 anos, depois de herdar a função do sogro que, durante décadas, assumiu a responsabilidade de deitar abaixo a árvore escolhida pela comissão de festas. “Vou cortar o eucalipto enquanto puder. Depois também irei escolher alguém para me suceder. Provavelmente, será alguém da minha família. Não é obrigatório que assim seja, mas tem sido sempre assim”, refere.

Uma coisa é certa, seja quem for que cortar a árvore terá sempre de usar o machado que foi utilizado na última sexta-feira. “É sempre o mesmo machado que corta a árvore. É assim que manda a tradição”, diz.

Aos 48 anos, Gabriel Santos não se limita a cortar o eucalipto. É também ele quem, de machado às costas, lidera o cortejo que percorre parte da freguesia até chegar ao monte de S. Domingos. Aí, também é ele que coordena o levantamento do mastro.

Um guia que vive longe da freguesia

O “Levantamento do Mastro” em Fonte Arcada é uma tradição cheia de figuras pitorescas. José Luís Ferreira é uma delas. Nascido nesta freguesia de Penafiel, este homem agora com 54 anos acabou por deixar Fonte Arcada e, há 29 anos, que vive em Beire, no concelho vizinho de Paredes. Uma distância que não o impede de participar no cortejo que percorre algumas ruas e caminhos da localidade que o viu nascer.

Aliás, José Luís Ferreira não perde uma edição da festa e este ano voltou a vestir o colete e a colocar o chapéu para guiar os cerca de 60 homens que carregam o mastro com mais ou menos 30 metros de comprimento. “Todos os anos venho à festa e faço de guia. Nasci aqui e gosto disto”, refere José Luís Ferreira, enquanto procura o melhor trajecto para o “comboio humano” fazer mais uma curva apertada.

Enquanto percorre os quilómetros que hão-de levar ao monte de São Domingos, José Luís Ferreira vai desfiando conhecimentos sobre a tradição que promete manter a todo o custo. “A festa de S. Domingos pode acabar, mas o “Levantamento do Mastro” não”, garante.

Freguesia pára para participar na festa

O “Levantamento do Mastro” mobiliza toda a freguesia de Fonte Arcada. Quem trabalha por conta de outrem mete um dia de férias e os empresários fecham a loja ou a fábrica para participar numa tradição que apenas não se cumpriu durante alguns, poucos, anos.

Nem trabalhar além-fronteiras é desculpa para faltar a esta festa popular. Na sexta-feira, eram vários os homens que vieram de Espanha e França para carregar o eucalipto às costas. “Manel Marteleiro” era um desses casos. Juntamente com outros colegas da freguesia saiu das terras gaulesas dois dias antes da festa de S. Domingos. A carrinha em que viajava sofreu uma avaria e um acidente, mas não o impediu de chegar a tempo de pegar no mastro e voltar a França dois dias depois.

Em anos anteriores, emigrantes em Angola também regressaram a casa propositadamente para participar no evento e quem está radicado no estrangeiro antecipa as férias para não perder nada do que acontece em Fonte Arcada por estes dias.

Por Roberto Bessa Moreira publicado in O verdadeiro Olhar

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