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Fernando Barbosa (1945)

Fernando Barbosa (1945)

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ANTÓNIO Fernando Guimarães Barbosa nasceu em 1945, na Póvoa de Varzim. Em 1971, casou Ana Maria Ferreira, a mãe do seu único filho. Descendente de uma família numerosa, António Fernando era o mais novo de nove irmãos, fez a 4ª classe com distinção mas teve que trabalhar para ajudar os pais. “Aprendia muito bem e ajudava os outros alunos. No sótão dos meus pais, cheguei a dar explicações a 15 colegas da escola. Mas aos 11 anos tive que ir trabalhar. Comecei com o meu pai a picheleiro, mas não gostei da arte. Queria ser ourives e fui para o Pedro Vilaça que tinha uma das maiores oficinas da Póvoa, com 16 ourives. Como trabalhava lá um irmão meu, o patrão pôs-me na banca de ourives, ao lado dele, e comecei logo a aprender a arte. Mesmo depois do horário laboral, ficava a praticar e, em pouco tempo, comecei a copiar peças. O patrão gostou do que viu e, na primeira semana, deu-me cinco escudos (dois cêntimos e meio) de ordenado. Na segunda semana deu-me o dobro. No final do primeiro mês recebi 20 escudos (10 cêntimos).

E recorda: “o ouro era soldado à boca. Usava-se uma lamparina e bufava-se num tubo para a chama ir soldando. Quando a peça era grande apanhava-se uma suadela. Como cismei que tinha que soldar à mão, peguei num maçarico e consegui unir o ouro. Ficou tudo admirado mas ninguém quis aprender”.

Reproduzir peças passou a ser coisa pouca para um artista como António Fernando, que sempre foi fascinado pela criação. “Comecei a tirar tudo da cabeça. Derretia o ouro, puxava e criava peças originais. Inventava alfinetes, brincos e anéis diferentes. Cheguei a criar colares-de-rainha para famílias abastadas. Depois de executada, a peça era polida, torneada ou cravejada por outros artistas. O patrão dizia que eu era maluco porque eu fazia tudo e até levava as minhas criações à Ourivesaria Gomes e trazia uma encomenda de vinte peças iguais”. E acrescenta: “nasci para ser ourives. Cheguei a executar joias do princípio ao fim, polia, cravejava e fazia tudo”.

Em 1978, por influência do empreiteiro João Gomes Ferreira, seu sogro, Fernando Barbosa passou a trabalhar por conta própria: “ele sabia que eu era um grande ourives e sempre me incentivou a abrir um negócio. Levantei as minhas poupanças e comprei todas as ferramentas para montar a oficina. Comecei a fornecer ourivesarias com a minha criatividade. Só uma ourivesaria da Póvoa comprava-me às 20 moscas de cada vez, feitas à mão. Seis anos depois, o meu sogro voltou a convencer-me a abrir uma ourivesaria. Dei-lhe o nome de Ourivesaria Fernando Barbosa, hoje dirigida pelo meu filho. Mas ainda me vêm parar às mãos, para consertar, peças feitas por mim há cerca de 50 anos. Reconheço-as logo”.

Fernando Barbosa trabalhou em ourivesaria 56 anos, uma arte que aprendeu e ensinou: “sempre gostei de transmitir conhecimentos. Na primeira oficina que trabalhei ensinei os mais novos e até alguns mais velhos, na idade e na profissão. O meu filho também sabe trabalhar o ouro. Principalmente a gravar e cravar pedras”. Entre o ouro, outros brilhos preencheram a vida: “sempre gostei de cantar e dançar. Cantei 18 anos no coro da igreja Matriz e dancei com a minha mulher no Rancho do Cidral, durante 10 anos. Na minha vida tudo foi feito com amor e por amor”.

Publicado in A VOZ DA PÓVOA

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