SE PERGUNTAREM o que é paisagem, pode-se responder que é o que resulta da paisagificação de uma determinada actividade ou actividades. Esta é uma paisagem bovina. Pela berma da estrada vai um alinhamento de pedras de dois feitios: umas de muros que havia a bordejar os campos para que os animais racionais e irracionais não fossem para lá calcar, comer ou roubar coisas e pastar em casa alheia; outras, ao alto, seriam postes para segurar as latadas de vinha quando se fazia vinho no tempo em que cada um produzia um pouco de tudo para seu sustento. Entre umas e outras há postes de electricidade e telefone (sem redes nada funciona). Pendurada no primeiro poste, Pioneer é marca de negócio multinacional de sementes, entre outras coisas, que aqui se dedica a vender milhos híbridos e transgénicos para ensilar e dar de comer às vacas. A seguir, um campo de azevém para o mesmo efeito e depois um campo lavrado com outra semeadura do mesmo para ceifar mais tarde. Se fosse verão estaria aqui o milho da tal Pioneer. Ao fundo, comida pelas heras, uma ruína de casa de lavrador que já foi. Ao lado, um longo silo coberto de plástico preto e pneus para proteger o milho ensilado da colheita anterior e que os animais vão comendo. Finalmente, atrás, a vacaria, máquina biológica de produção de leite ao ritmo de 30-40 litros por dia/vaca, qual dilúvio para subdividir em pacotes.
Névoas e silhuetas de eucaliptos e montes fecham esta composição pastoral. Pastoral é uma maneira de dizer.
Por Álvaro Domingues autor de A Rua da Estrada