CARLOS Soares Ferreira nasceu em 1927, na Póvoa de Varzim. Frequentou a Escola Comercial, actual esquadra da polícia, até ao 3º ano. Foi estudante trabalhador, Bancário e director de Bingos da Sopete. “Tinha cinco meses quando a minha mãe faleceu. Quem me criou como uma mãe foi a tia Libânia, dona do antigo café Ribeiro. Eu vivia com a minha avó materna e, um certo dia, ainda muito menino, uma senhora levou-me ao Café Ribeiro para dar um beijo na madrinha Libânia. Deixou-me ficar e foi à praia do peixe, comprar pescado. Naquele entretempo, comi umas sopinhas de leite, um luxo desconhecido na pobreza em que vivia. Fui tão bem tratado que me amarrei ao pescoço da madrinha e não quis ir para casa da minha avó. Ali fiquei a viver até me casar. Só saí daquela casa para Moçambique. Fui criado com imenso amor, de verdadeira mãe para filho. A tia Libânia era irmã do meu avô materno”. E recorda: “eu trabalhava e estudava. No intervalo da escola ia ao Mercado beijar a mão â minha avó e recebia de lanche uma cenoura para roer. Já adolescente, conheci uma moça por quem me apaixonei, mas ela era um bocado fugidia e andei uma porção de tempo a tentar namorar com ela. Acabei por casar com essa moça que é hoje a minha mulher, Maria das Dores Feiteira. O nosso amor deu três filhas. Duas nasceram na Póvoa e a mais nova em Moçambique”.
A procura de uma vida melhor levou Carlos Ferreira a partir para Lourenço Marques, em 1949. “Morava e trabalhava no Café Ribeiro, mas não tinha salário, vivia das gorjetas dos clientes, que não chegavam para dar dignidade ao meu casamento. Com tremendíssimo desgosto da tia Libânia, disse adeus à Póvoa no dia de Natal. Fui para Moçambique, ter com o meu sogro que era comerciante de peixe. Quando cheguei, soube da abertura de um concurso para o Banco Ultramarino, da Ilha de Moçambique. A minha prova de acesso agradou de tal forma que a administração quis que eu ficasse em Lourenço Marques. Comecei como 4º escriturário e cheguei a Director de Serviço de Crédito do Banco Ultramarino. Era um serviço vocacionado para formar gerentes. Depois escrevi um livro que se chama, Iniciação Bancária. Quando se deu o 25 de Abril, convidaram-me para ficar. Aceitei com agrado mas a independência acendeu o fogo que me obrigou a vir embora”.
Por José Peixoto. Leia a notícia na íntegra na edição impressa da A VOZ DA PÓVOA