SERENIDADE. Esta é a palavra que mais vezes nos ocorre à mente quando pensamos em Diego Herrera, que usa o nome artístico Yayo. Mesmo quando o estávamos a ouvir contar a história da sua vida, além da simplicidade, sinceridade, a palavra serenidade impunha-se com mais frequência.

Estamos a falar de um homem que subiu ao topo do continente americano (Canada) para fazer valer o seu talento já reconhecido no país de origem, Colômbia. Não foi uma fuga. Foi um desafio. No início as coisas não foram fáceis, as reservas quase se esgotavam, mas logo surgiram oportunidades para publicar o seu trabalho e viver do mesmo. A perseverança valeu a pena.

Menos texto, mais imagem, logo mais universal

De certo modo, as características peculiares dos seus desenhos, sem qualquer texto ou legendagem, muito comum para os lados do mundo anglo-saxónico (com maior prevalência nos EUA), ajudou a diferenciá-lo dos restantes. Diz que ao contrário do estilo barroco muito em voga na América do Norte, o seu traço é mais simples, muito próximo dos riscos dos niños. O seu desejo é que os seus trabalhos se pareçam com os das crianças. Sente-se fascinado (aqui o seu olhar irradia alegria e um sorriso discreto interpõe-se entre as falas) com a facilidade com que os mais novos, através de simples riscos, representam ou invocam a realidade. O resultado do seu labor é, por isso, um humor mais exigente, mas mais universal (já repetido numa entrevista dada ao El Tiempo em janeiro de 1995)

Considera que o seu estilo e o dos cartoonistas latino americanos se fundamentam nas tendências europeias. A Europa, sendo um continente muito diferente do seu, diz-lhe muito enquanto espaço de cultura e estilo de vida. Por exemplo, aqui no Porto sente-se muito confortável, o ambiente transmite-lhe serenidade (outra vez a palavra) e é muito inspirador (parece que leva muitas ideias para por no papel). Além da segurança da cidade (pôde andar por todo o lado sem preocupações), as pessoas não são pretensiosas. São amáveis, melhor dizendo, somos amáveis (obrigado pela parte que nos toca). É como se sentisse em casa. Aliás, Diego deu o exemplo de Wolinski que gostava muito da cidade do Porto.

Foto: Augusto Baptista

E quanto a influências?

Neste aspeto não foi muito preciso, confessando a admiração pela obra de Saul Steinberg (romeno que foi viver para os Estados Unidos) e a simpatia pelas fotografias de Chema Madoz. Enquadra os seus trabalhos na corrente surrealista que, em seu entender, está a ressurgir através de vários autores.

Método de trabalho

Sobre o método de trabalho, uma das perguntas a que respondeu com mais objetividade, diz que há dois momentos: um de inspiração, de cariz emocional, e outro de concretização da ideia, mais racional. No primeiro tudo lhe serve de motivo para tomar notas no seu caderno. Dá muita atenção às coisas simples do dia-a-dia (o cartoon político é muito limitativo artisticamente, confidenciou). A seguir, concentra-se e dedica-se em exclusivo ao desenho. Lembra que há obras que exigem mais perfeição que outras para se alcançar o que se pretende. Tudo para concluir que depois de muito treino, a perspetiva que tem sobre as coisas se alterou (nós designamos por deformação profissional). Tanto assim é que quando confrontado com a ilustração da BULA de julho da autoria de Carla Anjos, em vez de ver a cabeça da rapariga e os cabelos ao vento viu no conjunto a forma de um peixe, tendo logo ali rabiscado o que estava vendo.

Curiosidades e coincidências, ou talvez não

Diego durante a conversa aproveitava as nossas falas para comer cerejas (as conversas são como as cerejas!!!). Disse, no fim, que as de cá são doces, enquanto as do Canadá são azedas. Bom proveito Diego!

A dada altura classificamo-lo como poeta (no caso visual) ao que respondeu com um sorriso. Ao chegarmos a casa lemos na contracapa do livro Humoro Sapiens que Jean-Marie Bertin também lhe chama poéte.

Augusto Baptista, numa paragem da sessão fotográfica, ao explicar os efeitos da luz no resultado das fotografias aludiu ao Genesis: E disse Deus: haja luz; e houve luz. E viu Deus que a luz era boa. Também Roberto Merino Mercado no texto inserto na página 23 do livro PortoCartoon 2015, e sobre o tema A LUZ, invoca aquela passagem.

Outra coincidência. Foi graças à nossa chegada que Diego não foi esmagado pelo homem que no telhado do Museu da Imprensa ia rodando discretamente e à falsa fé a prensa. Foi por um triz. Coincidências ou talvez não!

Foto: Augusto Baptista

Resumindo e concluindo: foi muito enriquecedor o diálogo travado com Diego Herrera e sua mulher, Talleen Hacikyan, desejando que regressem em breve.

Hasta pronto Diego e Talleen!

Foto: Augusto Baptista
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1 COMENTÁRIO

  1. olá!

    Diego Herrea e sua mulher, Talleen Hacikyan são grandes artistas e seres humanos maravilhosos!

    Foi com muita alegria ter conhecido duas personalidades com muito carisma e amor.

    Abs

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