QUANDO Ebenezer Howard inventou a cidade-jardim – Garden Cities of To-Morrow, 1902 -, imaginava uma utopia, uma sociedade justa onde não haveria as misérias e a exploração dos operários nas cidades industriais do séc. XIX, no smoke, no slums, low prices, freedom, co-operation, pure air and water e muita mais música celestial. O melhor da cidade, como a diversidade de oportunidades sociais, a existência de lugares de diversão, a oferta de emprego…, e o melhor do campo, como a beleza da paisagem, o ar puro, as rendas baixas, a abundância de água…, seriam sintetizados na cidade-jardim onde se evitaria tudo o que de mau havia nas cidades fumegantes e nas más condições de vida no campo.
No melhor dos dois mundos, como reza no cartaz publicitário, tudo estaria organizado, planeado num esquema mais que perfeito, desde a moral à localização do Palácio de Cristal.
No mundo real não é assim, mas existem casas com relvados e jardins, palmeiras, alfazema e hidrângeas pelas bermas da estrada, muros com ramadas de vinhas, prédios com lojas, cafés e esplanadas, pastelarias e pão quente. Não é tudo, mas já é bastante para uma utopia feliz.
SOBRE O AUTOR: Álvaro Domingues (Melgaço, 1959) é geógrafo e professor na Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto, onde também é investigador no CEAU-Centro de Estudos de Arquitectura e Urbanismo. É autor de A Rua da Estrada, Vida no Campo e Volta a Portugal. Colabora com o Correio do Porto desde janeiro de 2015.
Publicado originalmente em 16 de Julho de 2015