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Sete perguntas a Sara Rodrigues

Sete perguntas a Sara Rodrigues

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SARA Rodrigues é natural do Porto onde sempre viveu rodeada por rio e mar. Após o secundário foi estudar para Londres. Licenciou-se em Belas Artes, frequentando agora os estudos em composição contemporânea e arte sónica. Afirma que lá existem mais oportunidades para os artistas mostrarem o que valem, mas correndo o risco de serem facilmente esquecidos. Tudo passa muito mais depressa. Por cá o ritmo é diferente, mais contemplativo. Considera ainda que vamos ser para sempre o produto do mundo que nos rodeia. No fundo não passamos de um aglomerado de matéria.

Por Paulo Moreira Lopes com fotografia de Jasmine Lk

1 – Data de nascimento e naturalidade (freguesia e concelho)?

12/09/1990, Porto.

2 – Atual residência (freguesia e concelho)?

Londres, Inglaterra.

3 – Escolas/Universidade que frequentou no distrito do Porto?

CLIP – Colégio Luso Internacional do Porto e Escola de Música Valentim de Carvalho

London Metropolitan University (BA Fine Art) e Goldsmiths, University of London (BMus Music)

4 – Habilitações literárias?

Bacharelato em Belas Artes (escultura e instalação)

5 – Atividade profissional?

Estudante de composição contemporânea e arte sónica na Goldsmiths University.

6 – Em que medida o local onde viveu ou vive influenciou ou influencia o seu trabalho por referência a fenómenos geográficos (paisagem, rios, montanha, cidade), culturais (linguagem, sotaque, festividades, religião, história) e económicos (meio rural, industrial ou serviços)?

O meu trabalho plástico foi desde cedo influenciado pela matéria orgânica, querendo trabalhar a desconstrução de formas mais complexas e compreender as bases dessas. Mas esse interesse pela matéria não era só de entendimento mas também de uma ligação mais intrínseca a esta. Gaston Bachelard, mencionado em diversos trabalhos que apresentei, fala que todos nós somos materialistas no fundo e que existe realmente uma ligação entre a matéria e o psíquico, da qual o poeta faz uso à imaginação na sua alusão aos elementos: terra, água, fogo e ar. É disto que se trata a exposição no Sismógrafo “Eu não sei dizer mais”, de um constante retorno a tudo o que nos envolve. No fundo não passamos de um aglomerado de matéria e a nossa participação nesta cativa-nos duma forma quase inexplicável.

Será talvez essa uma das razões por vários problemas de hoje em dia, uma falta de contacto com o mundo natural que nos deixa desligados de algo que não percebemos. Vê-se isso muito nas grandes metrópoles, Londres por exemplo, onde vivo: o constante ruído dos carros, aviões e construção continua, os arranha-céus, o cinza lá fora e o branco cá dentro, o correr que passa por uma quase desmaterialização que dá lugar ao sublime digital. É um mundo muito diferente do antigo mas que ainda existe e que encontro com mais presença quando venho a Portugal, que me lembra a história do Fausto de Goethe e da sua determinação no desenvolvimento, perdendo a importância do que ficou para trás.

É de facto verdade que existem outras possibilidades lá fora que não se encontram aqui com tanta frequência, uma cultura multinacional que nos passa pela frente diariamente, momentos de oportunidade assim como de esquecimento, de facto passa tudo muito mais depressa. Portugal tem um ritmo diferente, mais contemplador, com um meio de pontas tangíveis mas onde se continua a produzir com dedicação e apreço. A verdade é que um artista hoje em dia já não precisa de estar a viver numa cidade para saber o que lá se passa, mas a vivência da sua condição geográfica e social são fortes condicionantes para a produção do trabalho artístico, tanto presente como passada.

Sou do Porto e sempre vivi rodeada por rio e mar, caminhadas desde os montes até à areia da praia da Foz, tradições que se mantêm. Sempre fomos um povo ligado ao mar, desde os descobrimentos até aos pescadores e o fado, a saudade das mulheres junto ao mar depois dos maridos e filhos terem partido, esta história é algo que não nos deixa, e é claro que cada lugar tem a sua. O meu pai sempre se interessou muito por arte, mas houve um momento em que se dobrou para as pedras da praia, a abundância insignificante, e as viu como esculturas, com uma grande ligação antropomórfica. Surgiu também a ideia de poderem estar ligadas a rituais, como muitas outras, e a minha pesquisa continuou em Londres, na margem do Tamisa, onde descobri que tinha havido realmente várias intervenções ritualistas do período neolítico. Não é por acaso que os povos escolhem estes sítios para cerimónias, é por estar tão ligado a quem nós somos e ao mesmo tempo ao que não conseguimos escapar.

A exposição “Eu não sei dizer mais” acaba também com uma performance em que notícias acumuladas de jornais são mencionadas entre os ruídos de várias gravações. Entre a seca e tsunamis refere-se também a travessia em massa de emigrantes à espera que o mar lhes conceda a passagem e a promessa de um futuro com mais possibilidades. Há sempre algo que está acima de nós, uma geografia que nos abona e nos limita, vamos com certeza ser para sempre o produto da matéria que nos rodeia.

7 – Endereço na web/blogosfera para a podermos seguir?

www.sara-rodrigues.com
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