JORGE da Silva Marques nasceu na Póvoa de Varzim em 1944. Fez a 4ª classe e foi trabalhar como ajudante de carpinteiro. Aos 12 anos foi para marceneiro, profissão que exerceu até partir para Moçambique, com 19 anos. Com um grupo de amigos fundou a Associação de Antigos Escuteiros, hoje Fraternidade Nuno Alvares da Póvoa de Varzim. “Como gostava de brincar com madeiras, a minha mãe arranjou-me trabalho na carpintaria do Manuel da Venda. Estava feliz por aprender uma arte mas em pouco tempo desanimei. Era ajudante de um carpinteiro que só me dava porrada. Saí e fui trabalhar para o Augusto Terroso, que fabricava móveis, na Avenida Mouzinho de Albuquerque. Éramos uma dúzia de rapazes e duas dezenas de marceneiros. Fui para ajudante do Manuel Prisão, o melhor marceneiro da Póvoa. Eu polia, raspava, punha grampos, segurava os móveis e ia aprendendo com os olhos. Entregava-se os móveis na casa dos clientes transportados à cabeça ou com um carro de mão. Quando apareceu a fórmica veio um técnico do Porto ensinar como se cortava e colava. Forramos com uma fórmica todas as secretárias dos escritórios da Fábrica Quintas & Quintas. O horário era de escravo, todo o dia e noite dentro, de segunda a sábado. Ia receber ao domingo e ainda tinha que limpar a oficina e as máquinas. Cansei-me disso e fui trabalhar para o António Quilores do museu. Era um grande entalhador que fazia obra sacra e trabalhos para gente endinheirada. Cheguei a ficar horas de perfil para ele entalhar na madeira rostos de fotografias. Trabalhei com o Quilores até ir para Lourenço Marques”.
Com o aproximar da idade da tropa aumentava a ideia de emigrar para fugir à guerra, revelou Jorge Marques: “quando fiquei apurado para a tropa escrevi a um tio para me enviar uma carta de chamada de Moçambique e assim fugir à guerra. Foi ele que me pagou a passagem, seis contos (30 euros). Mas durante a viagem, o comandante do paquete informou-me que tinha que me apresentar no quartel-general e ir à inspecção novamente, logo que chegasse. Desta vez não escapei e tive mesmo que fazer a guerra, quase quatro anos, como cabo artilheiro. Antes de me apresentar, ainda trabalhei alguns meses como encarregado da serrilharia do meu tio, uma profissão que não gostava, mas tinha que lhe pagar o que devia. Quando acabei a tropa fui para marceneiro numa das melhores fábricas, mas o ordenado era baixo. Como tinha um primo que trabalhava numa ourivesaria que tinha uma secção de óptica, tornei-me oculista. Estudei as graduações e em pouco tempo aprendi a aviar as receitas e a colocar lentes nas armações. Na altura começaram a aparecer as lentes bifocais, que eram feitas de encomenda. Os óculos tinham que ser aprovados pelo médico. A devolução era uma vergonha, por isso tinha que ser muito bem feito. Tornei-me um oculista bem pago”.
Por José Peixoto. Leia a notícia na íntegra na edição impressa da A VOZ DA PÓVOA