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ODE ao GATO de Augusto Baptista

ODE ao GATO de Augusto Baptista

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Canto a insolência

com que olhas
de alto a baixo
os poderosos
os avalias
num desdém
a roçar a impertinência.

Ah e os teus dengosos
bate papos com o sol
este sol do sul
luminoso e quente
e me pergunto
de que falarão vocês
enrolados
um no outro assim
que assuntos calorosos
vos retêm tão entretidos
pela tarde adiante.

Canto a eloquência
dos teus discursos de silêncio
os enunciados
libertários que proclamas
no roçagar
do teu corpo
em labaredas
entre as pernas
dos homens
das mulheres
e guardo segredo
das coisas
que escutas
e me confias.

Canto este tempo
de pirilampos e malmequeres
pequenos sóis que alegram
os cabelos das raparigas
e tu pequeno príncipe
das trevas
que tudo vês
e sabes
de olhos fechados
libidinoso
a ronronar-lhes
no colo.

Canto a partícula cósmica
que um dia foste
e de longínquas paragens
saltou
fascinada
por esta bola
azul às voltas
salto timorato
de quem não mede
tempo nem distâncias
siderais
nem avalia as consequências
astronómicas
dos impulsos instintivos
um pulo de cortar a respiração
sete vezes
e
vertigem
de estrela cadente
grão de pó
ou ainda menos
desde os confins
do espaço
sideral
do tempo
sem memória
riscando o céu
em fogo
i
n
f
i
n
i
t
a
m
e
n
t
e
se fez
forma
animal
aqui
caindo

de pé.

De pé
como as árvores
que não tremem
diante do machado
e se inquietam
com o trinar dos pássaros.

Por Augusto Baptista publicado in Azul-Canário

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