NAS colinas de Tiburtino, desde a Villa de Adriano à Villa d’Este, dos imperadores, dos papas, dos cardeais, aos aristocratas e endinheirados, Tivoli é um lugar especial distinguido por Virgílio na Eneida, onde Horacio tinha uma villa, disputado pelos poderosos e espalhado pelo mundo em repetidos nomes de hotéis, casinos ou cinemas
De Roma a Pescara pelo meio das montanhas dos Apeninos, esta estrada era uma das principais vias romanas e em 286 a.C. tinha já sido classificada como via consular, percorrendo os cerca de 200 quilómetros até à costa do Adriático; a Via Tiburtina Valeria ficou com este nome por ser Marco Valério Máximo o cônsul que lhe conferiu tal estatuto. Desde a sua importância política porque vencia as primeiras trinta milhas de Roma a Tivoli para levar e trazer intrigas, pela importância militar e comercial, a Tiburtina era… la strada percorsa dalla nobiltà romana che villeggiava nelle splendide ville costruite proprio nella campagna circostante.
Parece que a Tiburtina, hoje Strada Statale, SS5, continua animada e cosmopolita, apesar das obras. Já não se fala latim, não há quadrigas, mas há mais carros do que nunca, agora com os cavalos embutidos nos motores. Não há sinal de legiões, também; para fazer impérios basta haver dinheiro porque territórios muito grandes é só trabalhos e calhau em demasia, e militares é uma violência. Antes casinos e palácios no Dubai; petrodólares em vez dos sestércios que perderam entretanto o valor cambial (mas que vão recuperar, assim o preço do petróleo se continue a afundar).
Parece, mas não é. Os indígenas de Roma dizem que a Tiburtina é apenas um corredor engarrafado pela manhã e pelo final da tarde, e que o resto são empresas falidas, armazéns vazios, restaurantes baratos, emigrantes pobres…, cosa può succederci di peggio?
Álvaro Domingues (Melgaço, 1959) é geógrafo e professor na Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto, onde também é investigador no CEAU-Centro de Estudos de Arquitectura e Urbanismo. É autor de A Rua da Estrada, Vida no Campo, Volta a Portugal e Paisagens Transgénicas.
Publicado originalmente em 28 de Janeiro de 2016