O MAR de Portugal como desígnio nacional é um enunciado contido na Estratégia Nacional para o Mar. A Economia Azul e o Cluster do Mar são outras expressões marítimas. Também há o POEM – poema, em estrangeiro – e Plano de Ordenamento do Espaço Marítimo de seu nome completo; compete ao POEM assegurar uma visão de conjunto assente nos princípios do desenvolvimento sustentável, da precaução e da abordagem ecossistémica, através do levantamento e ordenamento das utilizações existentes e futuras, permitindo dar suporte a uma gestão verdadeiramente integrada, etc. Muita letra como é costume e pouca poesia. Pois se esta pequena terra nem a si se governa, como iria governar o mar alto com suas medusas e sereias?
É muita água, muita onda, vento, chicharro, lulas e outros cefalópodes e animais de escama instáveis e caprichosos que não obedecem a ninguém. Já o Poseidon e o Neptuno se queixavam e eram deuses poderosos e muito mitológicos.
Dinis, o plantador de naus a haver na Mensagem de Fernando Pessoa, terá começado a pensar no assunto. De facto, o Pinhal do Rei já existia mas Dinis aumentou-o e preocupou-se em organizar uma força naval para defesa do reino. Do mar só vinham ventos e piratas e do outro lado eram os Castelhanos muito maus. A Taprobana era muito longe.
Vieram depois as caravelas e os tempos heróicos do discovery channel e Camões passou tudo à escrita. Correram mal as coisas entretanto; mais tarde veio o ouro do Brasil e derreteu-se. Da última vez que houve, havia armada, frota mercante e embarcações de pesca para a indústria da conserva; no fundo das águas, arquivaram-se dois submarinos e a pesca continua em ré menor.
Nem tudo está perdido, porém. Para grande animação da Economia Azul cresce o número dos lenhadores da praia que racham a lenha do Pinhal do Rei que deu à costa depois do naufrágio das caravelas. É o empreendedorismo sustentável, integrado, estratégico e saudável e isso, excepto para os bicos de papagaio porque puxa muito pelo corpo.
Por Álvaro Domingues autor de A Rua da Estrada.