O CIENTISTA poveiro Noel Miranda, investigador na área do cancro colo-rectal no Centro Médico da Universidade de Leiden, na Holanda, esteve na Póvoa de Varzim para ser distinguido pelo Rotary Club da Póvoa de Varzim. Nesta curta passagem pela cidade natal, a nossa reportagem esteve à conversa com o jovem investigador, que nos contou muito do trabalho que tem feito no combate a uma doença que, em Portugal, é a segunda causa de morte.
Mas comecemos pela homenagem de “Profissional do Ano”, do Rotary, um gesto que deixou Noel Miranda muito honrado: “quando recebemos um prémio de quem te é próximo, consegues sentir o orgulho de quem dá. Sinto-me honrado por receber este prémio, até porque cheguei a pertencer ao Rotaract e a integrar o grupo de jovens que dava explicações aos fins-de-semanas aos miúdos das instituições de solidariedade”.
Noel Miranda tem 33 anos, licenciou-se em Biologia Aplicada na Universidade do Minho, fez o Doutoramento na Holanda e o Pós-Doutoramento na Suécia. Publicou cerca de 30 artigos em revistas científicas internacionais e já foi distinguido pela Associação Michael’s Mission e pela Associação Americana para a Investigação do Cancro. “O meu dia-a-dia é passado no laboratório e no gabinete, já que tenho de coordenar grupos de trabalho. Faço investigação em cancro colo-rectal com a missão de desenvolver estratégias capazes de activar o sistema imunitário de forma a reconhecer e eliminar as células tumorais”.
E porquê a investigação do cancro colo-rectal? “É um desafio muito interessante porque se trata de uma doença extremamente complexa e que através do seu desenvolvimento recapitula, em parte, a evolução das espécies. De um momento para o outro, aparece um grupo de células dentro do organismo que depois começam a competir com as células saudáveis. Enquanto fazem isso, há uma série de adaptações e mecanismos para conseguirem escapar ao sistema imunitário. O meu trabalho é como tentar resolver um puzzle com milhões de peças. E quando consegues encaixar uma no sítio certo já é uma grande conquista. É algo que me fascina”, explicou.
Mas se o objectivo da investigação é o tratamento, a principal arma no combate à doença continua a ser a prevenção, afirmou o investigador: “durante e após o doutoramento, muito do meu trabalho baseou-se em caracterizar os mecanismos que as células tumorais utilizam para escapar ao reconhecimento do sistema humanitário. Na posse desses dados, o futuro passa por desenvolver estratégias que permitam eliminar as células tumorais. O cancro colo-rectal causa uma grande mortalidade. Mas as pessoas devem ter consciência que o rastreio permite reduzir a incidência dos cancros mais comuns. No caso do cancro colo-rectal, muitas vezes focamo-nos demasiado em desenvolver estratégias de tratamento quando, na realidade, se as pessoas, a partir dos 50 anos, se submeterem a uma colonoscopia, a incidência deste tipo de tumor diminui drasticamente. A prevenção continua a ser o melhor remédio”.
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