O ASSUNTO é muito sério. Depois de mais de mil e quinhentos anos Santo Agostinho ter andado em demanda da Cidade de Deus, eis que ela vai aparecendo. Não consegui ver tudo, mas a porta, os escritos, a imponência, aquela luz nos vidros espelhados e sobre o pórtico…, tudo indica que estaremos mesmo na entrada.

A primeira questão é que as duas cidades de que Agostinho fala – a terrestre e a celeste – são afinal a mesma que é esta e está na terra; na Galiza, mais precisamente. Nem se assemelha a Babel nem a Jerusalém. Não existem, como na primeira, torres, nem os incrédulos, os detestáveis, os homicidas, os fornicadores, os peçonhentos, os idólatras e todos os mentirosos que terão seu quinhão na lagoa fervente de fogo e enxofre. Da segunda, como também escreveu Agostinho, vi a cidade santa, a nova Jerusalém, e escutei uma poderosa voz que dizia: eis o tabernáculo de Deus e moradia dos homens, e Deus morará com eles. Bate certo.

Perguntando por ali, soube que é uma empresa de confecção de vestuário. Deus criou o homem à sua imagem e semelhança e colocou-o no paraíso sem roupa, como sabeis. Depois, por causa da fruta, a coisa correu mal e a nossa ancestral parentalidade foi obrigada a tapar as partes e foi expulsa para fora daquele lugar ameno. Por isso se tiveram os humanos de cobrir com roupa que o criador terá entretanto disponibilizado. Bate certo também.

É um corrilório à porta da casa de Deus. Muitos os chamados, pouco os escolhidos, como se sabe. Escreve também Mateus, citando quem sabeis, que é mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no reino de Deus. Ou não é verdade, ou o nível de riqueza está numa fasquia mais alta. No parque de estacionamento de Deus estão alguns carros de boas marcas com muitos cavalos mas nenhum camelo, e pelos vistos, entraram todos.

Gloriosa dicta sunt de te, civitas Dei

Por Álvaro Domingues autor de A Rua da Estrada.