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António Costa em Amesterdão

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ANTÓNIO Carlos Borges Santos da Costa nasceu em 1992 na Póvoa de Varzim. Estudou na Escola Secundária Eça de Queiroz e é licenciado em Física, pela Universidade de Coimbra. Fez um mestrado em Física Teórica na Vrij Universiteit Amsterdam, onde está a fazer o doutoramento e a trabalhar numa equipa de investigadores de neurociências. Partilha com outros músicos dois projectos: Palpita e Daisy Correia, mas também sobe ao palco, a solo, com a sua guitarra portuguesa.

A Voz da Póvoa – Partiu como estudante e agora é um emigrante?
António Carlos Costa – Concorri e fui para a Holanda fazer o mestrado, em 2013. Depois fui convidado a ficar lá para fazer o doutoramento, mais ou menos na mesma área. Continuo na parte da Física Teórica, mas agora mais aplicada à Biologia, na área das neurociências. Não tinha intenção de ficar, mas a proposta era demasiado boa. Sou assalariado de uma instituição nacional de Física, que se chama Fundação de Investigação da Matéria. O meu trabalho não se limita a Amesterdão, porque colaboro com outras universidades como a de Utreque, Roterdão ou Maastricht. Estou sempre a viajar. Apesar de ter sede em Amesterdão, acabo por trabalhar quase no país inteiro.

AVP – Qual a investigação que faz neste momento?
ACC – Estamos a trabalhar num organismo utilizado para vários estudos, onde fazemos manipulações genéticas e neuronais, no sentido de interpretar quantitativamente o comportamento. Fazendo modificações químicas ou genéticas, tentamos medir exactamente o que muda em termos de comportamento do animal. É um trabalho que pode ser bom para estudos farmacológicos ou para vários tipos de doenças. Ao mesmo tempo, estamos a fazer outro trabalho em redes neuronais (cérebros) para entender o funcionamento da rede de neurónios, como é que eles se interagem uns com os outros. 

AVP – A Holanda aproveita as lacunas de investigação de países como o nosso?
ACC – Eles dão muito valor ao conhecimento e ao crescendo que isso dá à economia, que acaba sempre por tirar partido do crescimento científico. Apostam muito em bolsas de investigação. É interessante trabalhar com biólogos, químicos, físicos, matemáticos, pessoas de várias áreas e ao mesmo tempo trabalhar em diferentes cidades. Em Portugal era pouco possível porque em termos de mobilidade é mais complicado. Trabalho com pessoas da Península Arábica, da China, Japão, Coreia do Sul, Argentina ou dos Estados Unidos. A diversidade de ideias costuma ser bastante frutífera. Há investigadores mais relacionados com a parte genética, outros com a parte neuronal, outros com o comportamento. Os holandeses gostam de ter pessoas de países com sensibilidades diferentes porque isso contribui, de facto, para a evolução. 

AVP – Podemos esperar para breve novidades sobre doenças como o Alzheimer?
ACC – A Alzheimer é um problema relacionado com a dinâmica das redes neuronais. Segundo investigações, aparentemente, o Alzheimer está relacionado com a perda de ligações entre os neurónios, se entendermos a maneira de como isso acontece, podemos tentar não quebrar esse tipo de ligações, para que as pessoas não percam memórias. É nesse intuito que fazemos toda esta investigação, para tentar neutralizar todas as doenças neurológicas.

AVP – Como consegue conjugar a música e a investigação?
ACC – Como estou a fazer o doutoralmente tenho uma certa liberdade. Trabalho quando posso, tenho as minhas reuniões semanais e cumpro prazos, mas tenho flexibilidade de horário, que me permite tirar umas horas para ensaiar e fazer espectáculos. Até agora tenho conseguido conciliar as duas coisas. Como é óbvio, gostava de dedicar mais tempo à música, mas também à ciência. Faço duas vidas numa. É um bocado complicado mas dou o que posso.

Leia a notícia na íntegra na edição impressa da A VOZ DA PÓVOA

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