MLYNARCZYK, guarda-redes do primeiro título europeu em futebol, faz esta terça-feira 63 anos. O polaco deixou saudades. Nascido a 20 de setembro de 1953, em Nowa Sól – vestiu pela primeira vez a camisola do FC Porto a 4 de Janeiro de 1986, nas circunstâncias mais exigentes: num Benfica-FC Porto (0-0) que marca a corrida ao título. O FC Porto tinha acabado de ceder o primeiro lugar na Covilhã, fora eliminado pelo Barcelona da Taça dos Campeões e perdera a Supertaça em casa. Artur Jorge não estava completamente satisfeito com os desempenhos de Zé Beto e Matos, e descobre o homem de mármore, há dois anos e meio incógnito em Bastia, França. Mly entra no FC Porto com 32 anos, três meses e 16 dias. Teoricamente, a caminho da reforma.
Com quatro treinos, salta para a baliza, enche a Luz com a sua frieza e parte para uma fantástica série de 528 minutos sem sofrer golos: 12 vitórias, três empates e apenas seis golos sofridos em 15 jogos. O FC Porto sagra-se campeão na última jornada e a média de golos sofridos pelo polaco é surreal: 0,4 por jogo. A problemática das redes passa à história, o avozinho amordaça os mestres atiradores da Liga, silencia as desconfianças e devolve serenidade e à equipa. Um golpe de mestre do Rei Artur.
A supressão de todos os medos está garantida com o veterano polaco, mas Zé Beto não se dá por vencido. A época de 1986/87 é um hino à concorrência feroz: Mly e Zé Beto trocam cinco vezes de posição. Zé Beto faz 28 jogos, contra 20 de Mly. Mas quando o ambiente aquece, o polaco sobe ao palco para as decisões. Faz o percurso até Viena, ganha o bilhete de avião para Tóquio, torna-se num imortal do FC Porto: campeão nacional, europeu e mundial, tudo o que nunca imaginou para final de carreira, no espaço temporal de um ano, 11 meses e nove dias.
Em 1987/88, a baliza já é toda dele: 50 jogos, apenas 24 golos sofridos, Taça Intercontinental, Supertaça Europeia, Campeonato e Taça de Portugal. Ao segundo ano completo no FC Porto, preencheu totalmente a caderneta de todos os troféus possíveis. Na última época, a retirada foi discreta, própria de quem sabe estar.
Ninguém pensava na sua resignação. Começou titularíssimo com Quinito, mas lesiona-se entre a terceira e a quarta jornadas. Zé Beto também estava lesionado e, a 11 de Setembro de 1988, o seu destino cruza-se com Vítor Baía, que aos 18 anos é chamado de urgência a Guimarães. Quinito não pestanejou ao apostar em Baía e Baía não falhou. O resto da época é o sonho tranquilo dos portistas: Baía, Mly e Zé Beto para as redes, que nunca estiveram tão bem guardadas. A lesão de Mlynarczyk foi a mais grave e demorada, e a época de 1988/89 acaba por ser demasiado serena para o gosto de qualquer guarda-redes. Despede-se do activo a 7 de setembro de 1988, a vencer por 3-0 o HJK Helsinki, para a Liga dos Campeões. Fica como treinador dos guarda-redes.
Duas fases finais do Campeonato do Mundo, a segunda já como jogador do FC Porto, são a marca universal de Mlynarczyk a nível de selecções, da qual sobressai o terceiro lugar, em 1982, da Polónia de Szarmach, Lato e Boniek. Na terra natal, venceu dois Campeonatos e uma Taça com o Widzew Lodz. Em França, o destaque são os 76 jogos consecutivos na baliza do Bastia.
B.I.
NOME: Josef Mlynarczyk
DATA DE NASCIMENTO: 20 de Setembro de 1953
NATURALIDADE: Nowa Sól, Polónia
ÉPOCAS NO FC PORTO: 4
JOGOS NO FC PORTO: 91
INTERNACIONALIZAÇÕES: 42
TÍTULOS: Taça Intercontinental (1987), Taça dos Campeões Europeus (1987), Supertaça Europeia (1987), Campeonato Nacional (1985/86, 1987/88) e uma Taça de Portugal (1987/88)
Por Víctor Queirós publicado in F. C. Porto