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Rua da Estrada da fé racional

Rua da Estrada da fé racional

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RACIONALIDADE e fé, uma dupla capaz de queimar uma palete de neurónios até ao osso, são assuntos que dificilmente encontram descanso. Quando emparelhados, nem pensar. Claro que se a racionalidade fosse no plural, coisa clara e evidente mas muito ameaçadora da sobrevivência da própria racionalidade, resolvia-se a questão rapidamente, bastando apontar e esclarecer algumas diferenças e semelhanças entre as racionalidades da fé e as outras.

A seu favor, a fé tem um potencial cognitivo poderoso que permite entender muito do que o que o raciocínio convencional não atinge – pensando no regime torrencial com que se precipitam velhos e novos assuntos completamente opacos, a questão não é menor. Atingir a plenitude e a paz interior, ultrapassar crises graves ou partilhar valores e princípios éticos e morais, são outras tantas coisas que a artilharia simbólica da religião objectivamente racionaliza dentro de cada um dos seus sistemas de entendimento e respectivos universos culturais e históricos a que pertencem. Se dúvidas houver e se existe aqui alguma dificuldade de compreensão, mude-se o sistema de legibilidade da crença e use-se a medida da felicidade. Em caso de hesitação, entre felicidade e racionalidade, assuntos perfeitamente desligados, deve-se escolher a primeira.

Para se conseguir essa elasticidade de raciocínio, nada como

– frequentar regularmente um parque de fitness para a realização de exercícios ao ar livre (sem personal trainer, esforço exagerado e suplementos alimentares duvidosos)

– rezar junto ao cruzeiro (sem padre oficiante, sacristão, excessos e radicalismos),

– e frequentar uma escola com ar funcional e colorido (pública, de preferência).

Assim se conseguirá uma alma sã em corpo são, como pensava o poeta Juvenal que escreveu a frase em latim, para o que se deve pedir aos deuses apenas saúde física e mental e não perder tempo com rezas a retalho para isto e para aquilo.

Afinal era simples. Por vezes a Rua da Estrada deixa-nos um bocado confusos pelo inesperado com que vai alinhando ocorrências e simultaneidades. Porém, se a racionalidade estiver mais atenta à compreensão das coisas tal como aparecem e menos ocupada em metafísicas racionais sobre o que está ordenado ou desordenado segundo determinadas crenças e mitologias racionais pré-fabricadas, o caminho para a compreensão é bem mais claro. Pode seguir.

Por Álvaro Domingues autor de A Rua da Estrada.

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