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Navalha

Navalha

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1.
Cúmplice companhia.

Por Francisco Duarte Mangas, in A fome apátrida das aves, Modo de ler, página 34.

2.
também a navalha
do enxertador
indicia a primavera

Por Francisco Duarte Mangas, in A fome apátrida das aves, Modo de ler, página 163.

3.
Primeiro amor

Na Gerona triste dos meus sete anos
onde as vitrinas do pós-guerra
tinham uma cor cinzenta de penúria
a cutelaria era um estalido
de luz nos pequenos espelhos de aço.
Com a fronte descansando no vidro
olhava uma navalha longa e fina
bela como uma estátua de mármore.
Como não queriam armas em minha casa
comprei-a em segredo e no bolso
batia-me, ao caminhar, na coxa.
Por vezes abria-a devagar
e aparecia a folha fina e direita
com a conventual frialdade da arma.
Silenciosa presença do perigo:
nos trinta primeiros anos escondi-a
atrás de livros de versos e depois
numa gaveta entre as tuas cuecas
e entre as tuas meias.
Agora, prestes a fazer os cinquenta e quatro
volto a vê-la aberta na palma da mão
tão perigosa como na infância.
Sensual, fria. Mais perto do pescoço.

Joan Margarit, in quinze poetas catalães, tradução de egito gonçalves, ed. limiar, porto 1994

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