Foste-te. Porque quiseste. Porque eu não te mandei embora. Assim, sem mais nem menos, foste-te embora. Apanhaste-me completamente de surpresa, confesso. Não estava nada à espera. Se calhar, o mais certo é que já havia sinais, muitos sinais. Mas eu não os vi. Ou quis ver. Provavelmente, fui eu que escolhi viver numa espécie de frágil redoma de cristal, envolta na mais abençoada ignorância, sem riscos nem mágoas: uma confortável, bendita, satisfatória e bem-vinda monotonia, mas sem o ser: antes uma calma e venturosa bonança. Que vem sempre antes da tempestade. Que tu trouxeste. Ou escolhes-te trazer. Quando te foste.
Por Fátima d’Oliveira, que vive em Vale de Santarém, Portugal.