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Salpicos

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Michelle pegou no velho postal, tantas vezes lido e relido que o conhecia de cor.
Datava de 1967. Jean visitara o Porto nesse Verão – quente. Contara-lhe que se
sentou num muro de pedra à margem do Douro para lhe escrever algumas palavras,
por isso a caligrafia miudinha, quase tímida, apresentava-se mais tremida que
habitualmente. Quase desengonçada!

Conseguia ver com nitidez as emoções que Jean imprimira nas palavras; não
obstante o deslumbre próprio da juventude, era visível a paixão nutrida por aquelas
novas paragens: contagiado por pequenos salpicos de cor e alegria dos habitantes,
decidira ficar.

Das águas do Sena, um barco rabelo parecia acenar-lhe. Confiante.

Michelle fechou a porta do apartamento, guardou o postal no bolso da gabardina
bege e sorriu: o Porto seria agora a sua nova casa. Onde Jean a esperava.

Por Ana Paula Barbosa, que vive em Lisboa, Portugal.

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