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Inventário

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Quatro gatos – logo será um Cachorro. Três peixes – foram mais de dezena.
No telhado: pombos e pardais. Andorinhas nos fios. Zé do Passarinho e todas as
gaiolas. À noite, guinchos de morcego. De dia, relinchos. No lote que foi vago
pastavam cavalos e mulas. Carreto só em carroça. O cavalinho do carrossel estava
bambo e fiquei tonto. A ida ao zoológico, escondido no carro do tio (mas se fui, onde
se meteram os bichos, que só ficaram o carro, o tio e eu? Bosta de memória!) Bosta
de vaca e cavalo – mãe queria esterco nos canteiros onde vingavam minhocas.
Houve cabras, porcos, uma galinha para cada filho, cães que adoeceram para a
morte, o casal de periquitos, o pássaro-preto roubado, a Taca maritaca de
penasasas cortadas. Vaga-lumes onde estarão? As piabas apanhadas
na bica e malcriadas na caixa d’água nunca chegariam a peixe.
Nem as borboletas as lagartas esmagadas nos casulos. Farofa de
bunda de tanajura não comi, só as espetava vivas e depois fritas.
Formiga lava-pé. Joaninha na mão. Cigarra no barbante. Colmeias
sem mel. Taturana-cabrita. Depois da chuva, sapos. Aquele
morava na saída de água que dava pra escada. Aranhas cabeludas entocadas
no gramado. Calangos no muro. Calangos – quase me esqueço. Carapaças, caramujos e
cupins. Casa de cupim.

Por Laudeir Borges que integra o Coletivo O GRITO e vive em Brasília, Brasil.

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