PAULINO Gonçalves Santos nasceu em 1959, em Macieira de Rates, Barcelos. É casado com Maria Lúcia Fernandes e tem um casal de filhos. Como nasceu no seio de uma família de pequenos lavradores, quando foi fazer a instrução primária já ajudava nos trabalhos do campo: “Os filhos dos agricultores começam a gatinhar no campo e depois entre a brincadeira e o trabalho vão dando uma ajuda. Aprende-se olhando os outros e a praticar. Depois as mãos semeiam tudo o que comemos e guiam os animais ao rego a puxar o arado ou a gradar. Preparar a terra para a pranta era um trabalho demorado e duro. Também levava o gado a pastar”.
Quando entrou para a escola já fazia de tudo um pouco, mas Paulino Santos diz que nunca gostou de trabalhar na agricultura: ”Os dias eram passados no campo e à noite tinha que tirar o leite às vacas e levá-lo, nuns cântaros, à leitaria. A cama do gado era feita de mato roçado nas bouças à sachola e levado no carro de bois. Concluída a quarta classe comecei a meter na cabeça que a minha vida tinha que ganhar outro rumo. Tinha 13 anos quando aceitei o convite de um primo que trabalhava na adega da dona Nazaré, na Rua António Graça, na Póvoa de Varzim”.
O jovem adolescente viu-se privado da família, mas isso não o esmoreceu: “A dona Nazaré acolheu-me como uma mãe. Comecei a trabalhar na mercearia, depois na adega a servir canecas e copos de vinho nas mesas. Recebia algumas gorjetas. O meu primeiro ordenado foi cem escudos por mês, (50 cêntimos), com comida e dormida. Ia três vezes por ano a casa, na Páscoa, no Natal e no Ano Novo. Quando chegava à aldeia, ia bem vestido e os amigos de infância rodeavam-me. Como o meu pai me deixou sempre ganhar para mim, pagava-lhes uns sumos e umas sandes de marmelada. Regressava sempre a chorar. Gostava de trabalhar na Póvoa, mas a minha gente, a minha família, carregava-me de saudades”.
Foi na mercearia e adega da dona Nazaré, conhecida pela viúva do Leitão, que recebeu todos os ensinamentos do negócio: “Era muito boa pessoa e deu-me bons conselhos. Nunca se cansou de me dizer para mais tarde abrir um negócio, nem que fosse de cascas de alho, dava mais que um emprego. Isso mexeu comigo e aos 19 anos, deixei a adega e emigrei para a Córsega. Fiz dois contratos de seis meses na construção civil e juntei algum dinheiro. Depois trabalhei no Quintas & Quintas, mais seis meses, até comprar o trespasse de uma mercearia à viúva de José da Senra, Maria Engrácia”.
Paulino Santos não esquece o primeiro dia de negócio: “Entraram mais pedintes que clientes e a gente dava sempre alguma coisa. No final do dia tinha 50 escudos (25 cêntimos) na gaveta. Tive que me fazer à vida. A mercearia só vendia arroz, açúcar, azeite e outros produtos, mas comecei a fazer uns petiscos e a ir à minha terra buscar pipas de vinho e hortaliças. Um ano depois deixei de servir copos mas vendia vinho ao litro e ao garrafão”.
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