TENHO um colega que é todo meias medidas: é um tipo de meias-palavras, pede sempre meia torrada e meia de leite, mas faz meias maratonas e tem meia dúzia de amigos. Um desses “amigos” disse-me que ele usa meia-calça. É um pouco meia-leca. Talvez por isso (ou por outra coisa qualquer) tentou cometer suicídio, mas ficou a meio. Um destes dias encontrei-me com ele a meio do caminho para o trabalho. Ganhei coragem e perguntei-lhe:
– O que te passou pela cabeça? Pensaste ao menos na tua mulher e nos teus filhos?
– Mais ou menos. No meio é que está a virtude, não é o que dizem?
– Tu estás tolinho, não estás?
– Mais ou menos, fiquei meio descompensado. Em vez de tomar um comprimido, tomei meio naquele dia. Meia volta é assim.
– …queres ir ao Meia Banana logo?
– Só saio às cinco e meia.
– Eu espero.
– Ok. Vamos lá então. Meia dose de picanha dá para os dois.

Pedro Amaral, natural do Porto, nasceu em 1974. É tradutor freelancer. É autor do blogue Pedro e o Lobo. Iniciou a sua colaboração com o Correio do Porto em 2016.

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