COMPARTILHAR

A manta de burel

A manta de burel

0
1991

POR volta da meia-noite, em locais escusos, fazia a mezinha: queimava arruda na pureza do fogo, cosia a boca aos sapos na época do cio. Sobre a manhã, descia ao rio: levantava a saia longa e despejava uma ladainha impercetível. Mulher temida. De pelo na benta, diziam os que a receavam. Um dia passou na aldeia o desconhecido. Na taberna, pagava vinho e presunto por troca do segredo da mulher. Nada soube, como se ela tivesse cerzido a boca do povo. Frustrado com o método arcaico de seduzir a pobre gente, o forasteiro exibiu cartão de professor universitário. Todos, em pânico, engoliram o medo e tigelas de vinho, pago com as suas moedas puídas de brilho. A mulher, nessa noite, ficou em casa a remendar a manta de burel.

Texto de Francisco Duarte Mangas publicado originalmente in O homem do saco de cabedal, Campo das Letras, maio de 2000, página 15, com ilustração de Inma Doval.

Partilha

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here