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Carnaval com saquê

Carnaval com saquê

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UMA japonesa sambando e um brasileiro tomando saquê, a bebida símbolo da Terra do Sol Nascente. Cenas que, inicialmente, podem parecer estranhas para um país historicamente pouco miscigenado como o Japão – afinal, lembremos que o país somente se abriu para as relações internacionais na Era do Imperador Meiji (fim do século XIX) – tornam-se cada vez mais comuns no Novo Milênio. O que, diga-se, é uma constatação maravilhosa. Pois, em um mundo cada vez mais dividido pelo ódio e pela intolerância às diferenças, testemunhar a miscigenação cultural é, realmente, um motivo de grande alegria.

Como alegre também foi o pequeno desfile de Carnaval a que tive o prazer de ir no dia 16 de setembro, em Higashi-Matsuyama, bairro localizado em Saitama – cidade onde resido desde 2005. Durante uma hora, viajei brasileiramente no tempo através dos pandeiros e tamborins, tocados por jovens, senhores e senhoras japonesas com a mesma paixão de meus compatriotas, também presentes no desfile. E as passistas? Divinas; combinando a delicadeza dos movimentos orientais com a força do requebrado próprio do ritmo brasileiro. E a porta-bandeira? Ah, que maravilha aquela jovem! Rodopiando pela pista com uma elegância que, certamente, receberia aplausos de Selminha Sorriso: lendária porta-bandeira dos desfiles cariocas, que, aliás – e aí vai uma curiosidade – começou a carreira, em 1991, apresentando-se em casas de show no Japão.

Bateristas e passistas afiados, fantasias coloridas e caprichadas, e, principalmente, uma alegria contagiante… nada faltou no desfile de Higashi-Matsuyama. Além, claro, de um sublime toque de nostalgia: pois, como disse, sendo brasileiro, viajei no tempo vendo um desfile feito pelo e para o povo – com uma pureza e naturalidade que, infelizmente, a mídia televisiva tem asfixiado no tradicional desfile do Rio de Janeiro, já há alguns anos. De modo que, quando tocou o clássico samba “É hoje o dia”, que, em 1982, fez todo o Brasil cantar com a Escola de Samba da Ilha do Governador… ah, a emoção tomou conta de mim! 1982 fora o primeiro desfile de escolas de samba a que assisti: um tempo em que o Carnaval era muito mais que pseudocelebridades e guerras publicitárias.

Quem diria, pois, que seria no Japão do século XXI que eu veria outra vez “um carnaval à moda antiga”: com o povo nas ruas, cantando, dançando, sorrindo… como deve ser a folia!

Um evento lindo, enfim! Tão contagiante que, ao final, fez com que este brasileiro preferisse o saquê à cachaça: brindando, assim, à valiosa miscigenação.

Até à próxima.

SOBRE O AUTOR:
EDWEINE LOUREIRO nasceu em Manaus em 20 de setembro de 1975. É advogado e professor de idiomas, residindo no Japão desde 2001. Premiado em concursos literários no Brasil e em Portugal, é autor dos livros “Sonhador Sim Senhor!” (2000), “Clandestinos” (2011), “Em Curto Espaço” (2012), “No mínimo, o Infinito” (2013) e “Filho da Floresta (2015), os dois últimos vencedores, respectivamente, dos Prêmios Orígenes Lessa e Vicente de Carvalho da União Brasileira de Escritores – RJ (UBE-RJ), em 2016. E, em setembro de 2017, seu livro, ainda inédito, “Crônicas de um Japão Caboclo” obteve, também pela UBE-RJ, o Prêmio Alejandro Cabassa. Página para contato: https://www.facebook.com/edweine.loureiro

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