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Colegas japoneses

Colegas japoneses

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TRABALHO no Japão desde 2005. Até 2009, fui Consultor de Recursos Humanos. E, desde 2011, tenho lecionado, em Tóquio, idiomas para empresas multinacionais.

Nesse período de mais de dez anos, tive, claro, a oportunidade de trabalhar com vários profissionais japoneses. De tal modo que o que relato, doravante, é tão somente produto de minhas impressões pessoais. Outros estrangeiros, claro, podem possuir experiências diversas. Mas, independente das experiências de cada um, não há dúvida que a comunicação tem exercido um papel fundamental nas relações entre estrangeiros e japoneses, seja qual for o ambiente de trabalho e/ou a natureza do serviço.

E, quando me refiro à comunicação, não falo somente das dificuldades do idioma japonês, especialmente para os ocidentais. Não. No Japão, uma comunicação adequada estabelece-se com pequenos gestos e até mesmo com o silêncio. Portanto, o momento e a forma como nos dirigimos a nossos colegas e superiores podem fazer, sim, toda a diferença para uma boa relação. E aqui ouso dizer: dirigir-se a um japonês com humildade, ainda que sem fluência no idioma, pode ter um efeito muito mais positivo que, dominando a língua, adotar um tom de arrogância ou exigência. Vi isso em várias ocasiões: estrangeiros que, apesar de competentes, acabavam por criar atritos, pelo modo como se dirigiam a um colega ou chefe japonês. Nesses casos, a preocupação com a objetividade acaba por fazer com que nós, ocidentais, esqueçamos as formalidades, baseados no princípio de que “Tempo é dinheiro!”.

Ocorre que a formalidade é tudo para os japoneses. Assim, o tom de voz, a consciência de hierarquia, o uso de termos apropriados, tudo isso é levado em conta para a harmonia no trabalho. Na questão dos termos apropriados, alguns deles, diria, são mesmo cruciais: por exemplo, numa discussão, expressões para “desculpar-se pelo oposição à ideia do outro” (moushiwake arimasen desu ga) são fundamentais; independente de quem tenha razão. Tais expressões, com certeza, terão um efeito mais positivo do que simplemente tentar impor a própria visão: pois farão com que o colega japonês passe a escutá-lo e a respeitar suas ideias, ainda que não as aceite.

Por fim, a burocracia interna. Presenciei, muitas vezes, colegas estrangeiros irritados com a quantidade de “selos” que deviam ser requeridos internamente para que um contrato com um cliente fosse fechado – desde a assinatura do superior direto até a do Presidente. Mas, para o bem ou para o mal, esses procedimentos internos acabam sendo inevitáveis – para a própria segurança da empresa como um todo.

Afinal de contas, amigo leitor, sempre é bom lembrar que, no Japão, humildade, paciência e segurança jamais serão excessivas. Até à próxima edição.

SOBRE O AUTOR:
EDWEINE LOUREIRO nasceu em Manaus em 20 de setembro de 1975. É advogado e professor de idiomas, residindo no Japão desde 2001. Premiado em concursos literários no Brasil e em Portugal, é autor dos livros “Sonhador Sim Senhor!” (2000), “Clandestinos” (2011), “Em Curto Espaço” (2012), “No mínimo, o Infinito” (2013) e “Filho da Floresta (2015), os dois últimos vencedores, respectivamente, dos Prêmios Orígenes Lessa e Vicente de Carvalho da União Brasileira de Escritores – RJ (UBE-RJ), em 2016.

Página para contato: https://www.facebook.com/edweine.loureiro

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