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Novos Temp(l)os

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RADICADO no Japão há dezasseis anos, a metade dos réveillons que aqui passei foi na cidade de Quioto. E isso por um motivo muito simples: os pais de minha esposa residem nessa belíssima cidade que, dentre outras atrações turísticas, é conhecida por seus mais de 1.600 templos. Estranhamente, porém, durante todos os réveillons vivenciados naquela que foi a capital japonesa até o século XIX, poucas foram as vezes em que adentrei um de seus templos: fossem budistas ou xintoístas. Não por intolerância religiosa, mas, sim, porque, em regra, é exatamente nessa data que milhares de turistas ― oriundos principalmente do exterior, mas também de diversas partes do Japão ― aglomeram-se para adentrar os principais templos do local. E, confesso, detesto aglomerações. De modo que, no primeiro dia do ano, prefiro ficar em casa ou ir a lugares, digamos, menos populares, como as salas de cinema de pequeno porte.

Em 2018, porém, graças à persistência de minha esposa, essa tradição de “antissociabilidade” foi quebrada. Ela convenceu-me de que era uma pena eu estar em Quioto e não visitar seus templos ― quando muitos até cruzavam oceanos para terem tal experiência. E, de fato, devo reconhecer: ela estava certa. Pois as horas que passei percorrendo três templos da cidade ― foram estes, na ordem: Kumano, Heian-jingu e Nanzen-ji ―, as descobertas e surpresas foram tantas que seria difícil descrevê-las todas em apenas uma crônica. Escolho, portanto, nesta edição, somente o primeiro templo, o Kumano; que visitamos totalmente por acaso, no meio do trajeto para o Heian-jingu.

É o Kumano um dos templos mais antigos de Quioto (e do Japão), pois data do ano de 811 d.C. Trata-se, em breves linhas, de um templo xintoísta (jinja, en Japonês), fundado pelo monge Nichiren, onde se ora por três objetivos: vida longa, saúde… e ter filhos. Mas também representa um santuário para proteger o país como um todo. E aqui chamou-me atenção uma particularidade: próximo à principal caixa de ofertas ― na qual depositamos aos deuses preferencialmente moedas de cinco iénes (o “goen”, considerada uma moeda “de sorte” pelos japoneses) ―, havia um pôster da seleção japonesa de futebol masculino. Resta saber agora se, apesar da boa intenção dos monges do templo, os deuses atenderão aos pedidos de seus devotos torcedores, fazendo com que os “samurais azuis” passem da fase de grupos.

Quanto a este brasileiro, sem grandes preocupações com o futuro da seleção nipônica, preferi mesmo orar por uma vida longa…

Na próxima edição, falarei dos outros dois templos visitados. Até lá, e um “Feliz 2018” a todos os leitores do Correio do Porto.

SOBRE O AUTOR:
EDWEINE LOUREIRO nasceu em Manaus em 20 de setembro de 1975. É advogado e professor de idiomas, residindo no Japão desde 2001. Premiado em concursos literários no Brasil e em Portugal, é autor dos livros “Sonhador Sim Senhor!” (2000), “Clandestinos” (2011), “Em Curto Espaço” (2012), “No mínimo, o Infinito” (2013) e “Filho da Floresta (2015), os dois últimos vencedores, respectivamente, dos Prêmios Orígenes Lessa e Vicente de Carvalho da União Brasileira de Escritores – RJ (UBE-RJ), em 2016. E, em setembro de 2017, seu livro, ainda inédito, “Crônicas de um Japão Caboclo” obteve, também pela UBE-RJ, o Prêmio Alejandro Cabassa. Foi também um dos autores premiados no Concurso de Poesia Agostinho Gomes, em Portugal, em 2017.

Página para contato: https://www.facebook.com/edweine.loureiro

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