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Stabat Mater

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ONÍRICA, angustiante e crepuscular atmosfera. Rabiscos alucinados no azul do céu que cobre o rio e a minha aldeia.

Às vezes parecem estranhos e desarticulados manequins de modista, esfíngicas e enigmáticas estátuas em gesso ou pedra, reclinadas sobre grandes pedestais, suportes prismáticos que as sustém e que falam a língua pura dos poetas.

São pessoas, são casas, são árvores transfiguradas na abstracta pintura que esvoaça triunfante na penumbra.

O universo desaba sobre um rio, aproxima-se dele carinhoso, ilumina-o com luzes maravilhosas extraídas de distantes e misteriosas galáxias e juntos recriam ancestrais cenários, alguns já irremediavelmente perdidos por que cada instante de beleza, falece em cada décimo de segundo que dura a maravilhosa aparição.

Não se vê nenhum beijo a navegar no rio que em banhos de luz se prepara para adormecer.

Este é o momento da paz e da fraternidade entre a natureza e os homens de boa vontade que fabricam futuros. Abençoados sejam.

SOBRE O AUTOR:
Manuel Araújo da Cunha  (Rio Mau, 1947) é autor de romances, crónicas, contos e poesia. Publicou: Contos do Douro; Douro Inteiro;  Douro Lindo; A Ninfa do Douro; Palavras –  Conversas com um Rio; Fado Falado –  Crónicas do Facebook e Amanhecer (Poesia). Colabora com o Correio do Porto desde junho de 2016.

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