SOU filho da Amazônia brasileira ― de modo que a neve é um fenômeno meteorológico ao qual não estou acostumado desde o berço. Portanto, não é difícil imaginar quão grande foi o meu fascínio quando, em 2001, recém-chegado ao Japão, vi, da janela de meu quarto, os primeiros flocos de neve.
Desde então, já vivenciei dezesseis invernos japoneses (a exceção foi 2010, quando passei alguns meses no Brasil). Porém, até agora, jamais havia tido a experiência de esquiar. Sonho que, enfim, consegui realizar no último dia 24 de fevereiro, quando visitei Yuzawa, uma cidade localizada na prefeitura de Niigata, conhecida por suas “montanhas de neve” e, mais especificamente, por suas doze estações de esqui, que, dependendo do ano, podem estar abertas até… início de maio! ― possibilidade que também se apresenta para o ano de 2018. Conforme percebem, pois, não por acaso o escritor Yasunari Kawabata, vencedor do Prêmio Nobel de Literatura, referiu-se a Yuzawa, em um de seus romances, como o “Snow Country” (ou o “País da Neve”).
Vale frisar, no entanto, que a cidade de Yuzawa, em si, é pequena ― possui cerca de trezentos quilômetros quadrados e pouco mais de sete mil habitantes. Mas o verdadeiro “tapete branco” que a cobre no inverno é realmente um espetáculo belíssimo para os milhares de turistas aficionados da prática de esportes no gelo. Isso porque a neve do local, mais úmida e, consequentemente, mais pesada, é ideal para esquiadores mais experientes. O que não é o meu caso; visto que, naquela que foi minha primeira tentativa de esquiar, somente consegui escorregar (literalmente) pela neve por alguns segundos ― até o inevitável tombo!
Uma outra característica da neve de Yuzawa que merece destaque é a pureza: aspecto este que, aliás, também é próprio da água da região, que ― segundo Masataka Yamamoto, meu amigo que é natural de Niigata e que nos levou, a minha esposa e eu, até Yuzawa ―, sendo filtrada ao passar pelas montanhas, torna-se a base da produção dos deliciosos saquês e cervejas que fazem a alegria dos visitantes: esquiadores ou não.
Dessa vez, infelizmente, não consegui provar do saquê. Mas as cervejas de Niigata, estas, sim, bebi. E adorei, particularmente, uma – denominada “Swan Lake” ( Lago dos Cisnes) ―, que, segundo os especialistas, está entre as seis melhores marcas de cerveja do Japão: ao lado daquelas produzidas em Nagano, Osaka, Hokkaido, Ibaraki e Shizuoka.
De minha parte, porém, procurei beber a saborosa cerveja de Niigata com moderação. Afinal de contas, naquele dia, já eram mais que suficientes os tombos que eu havia levado na neve…
SOBRE O AUTOR:
EDWEINE LOUREIRO nasceu em Manaus (Amazonas-Brasil) em 20 de setembro de 1975. É advogado e professor de idiomas, residindo no Japão desde 2001. Premiado em concursos literários no Brasil e em Portugal, é autor dos livros “Sonhador Sim Senhor!” (2000), “Clandestinos” (2011), “Em Curto Espaço” (2012), “No mínimo, o Infinito” (2013) e “Filho da Floresta (2015), os dois últimos vencedores, respectivamente, dos Prêmios Orígenes Lessa e Vicente de Carvalho da União Brasileira de Escritores – RJ (UBE-RJ), em 2016. E, em setembro de 2017, seu livro, ainda inédito, “Crônicas de um Japão Caboclo” obteve, também pela UBE-RJ, o Prêmio Alejandro Cabassa. Foi também um dos autores premiados no Concurso de Poesia Agostinho Gomes, em Portugal, em 2017.
Página para contato: https://www.facebook.com/edweine.loureiro