2019 bate à porta. E, no Japão, a chegada de um novo ano significa também que é tempo de realizar o “o-souji” ― que, traduzindo, nada mais é que um ritual de faxina. Hora, portanto, de retirar da casa tudo o que for obsoleto ― por exemplo, aquele amontoado de papéis, caixas e outros objetos já sem utilidade ―; e, assim, abrir o espaço necessário para receber tudo aquilo com que o ano vindouro nos presenteará. Um ritual maravilhoso, a meu ver: o de limpar o terreno, preparando-o para a colheita de novos frutos.
Em casa, tradicionalmente, começamos a fazer a faxina geral ainda em meados de dezembro. Isso porque na época certa do “o-souji”, que corresponde a dois ou três dias antes do ano novo, costumamos viajar. Apesar da antecedência, porém, tentamos caprichar na limpeza, de modo que, no dia primeiro de janeiro, nossa habitação tenha espaço suficiente para receber tudo de bom que o novo ano nos reserva.
Mesmo antes de vir para o Japão, aliás, sempre gostei dessa ideia de livrar-me do desnecessário e purificar o lar para abrir as portas ao ano que se aproxima. Recordo que minha mãe, no dia trinta e um de dezembro, costumava limpar cada um dos cômodos e, próximo à meia-noite, iniciava uma oração fazendo uso de uma vela indiana (este um hábito estranho, aliás, tratando-se de uma família católica…). Já tínhamos, portanto, ainda que inconscientemente, um costume muito similar ao que, muitos anos depois, eu viria a conhecer através do “o-souji”.
Vale frisar, porém, que, no Japão, tal ritual de limpeza não se limita às residências. No último mês do ano, os templos também passam por uma faxina, com os monges varrendo para longe toda a sujeira material (poeira, fuligem etc) e realizando paralelamente, conforme creem, uma higiene espiritual. No entanto, em virtude da grande extensão que caracteriza as propriedades religiosas no Japão (que, diga-se de passagem, possuem inexplicáveis imunidades tributárias), os monges começam a faxina (exceto a financeira!) ainda no dia treze de dezembro ― data conhecida como “Oshougatsu kotohajime”. E uma vez que dezembro, na Terra do Sol Nascente, coincide com o inverno, podem os leitores imaginar o quão pesada torna-se a tarefa de uma faxina ao ar livre. Nada, porém, que incomode os japoneses, fortes na crença de que, uma vez efetuada a limpeza, a recompensa virá com um novo ano repleto de saúde e conquistas.
E sendo esta, pois, minha última crônica em 2018, aproveito para deixar a dica: façamos um grande “o-souji” ― na casa, no trabalho ou mesmo nas relações sociais ― e joguemos fora tudo o que for inútil! Para que 2019 preencha a vida com novas alegrias.
A todos, portanto, um “Livre e Feliz Ano Novo”!
EDWEINE LOUREIRO nasceu em Manaus (Amazonas-Brasil) em 20 de setembro de 1975. É advogado e professor de idiomas, residindo no Japão desde 2001. Premiado em concursos literários no Brasil e em Portugal, é autor dos livros “Sonhador Sim Senhor!” (2000), “Clandestinos” (2011), “Em Curto Espaço” (2012), “No mínimo, o Infinito” (2013) e “Filho da Floresta” (2015), “Trovas escritas no tronco de um bambu” (2018) e, mais recentemente, pela editora alemã JustFiction! Edition: GOTAS FRIAS DE SUOR (Microcontos góticos, 2018): https://www.justfiction-edition.com/
Página para contato com o autor: https://www.facebook.com/edweine.loureiro
Muito interessante e instrutiva sua crônica meu amigo. Feliz do jornal que publica você. Um autor que coloco entre os melhores da atualidade. Sempre divulgo você na Academia de Letras na qual ocupo a cadeira número 15 em Caxias do Sul. Bjs literarios
Minha querida amiga Marilene, muito obrigado: por essas palavras e pelo incentivo constante em minhas caminhadas literárias. Deus a abençoe sempre. Um Feliz Natal e um maravilhoso 2019, nobre amiga. Edweine Loureiro