EM breve, os mapas serão essenciais para sobreviver na selva urbana. Não a versão analógica tal como a ainda conhecemos hoje, isso será para colecionadores, mas antes a versão digital que controlará o mundo. Para muitos isto já é uma realidade. Com a promessa da ´internet of things´ (IoT), rapidamente todos os nossos dispositivos e objetos eletrónicos irão consumir e produzir dados geográficos. Tal como carros autónomos dependerão diretamente de informação cartográfica adequada. Por um lado procura-se uma condução melhor e eficiente, por outro aumenta-se a segurança. Faz sentido. O transporte é ir de um ponto a outro, e, os mapas são instrumentos úteis no planeamento de rotas mais curtas, rápidas, seguras e baratas. Também, para os smartphones 10.0 e outros dispositivos de informação, dados geográficos fiáveis são um valor acrescentado.
Mas, e quanto às máquinas de lavar, máquinas de café, aspiradores, iluminação interior, iluminação pública, livros, cadeiras, têxteis, comida… qual a função dos mapas para estes bens? Bom, é interessante saber onde estão os livros no planeta! Poderão fornecer informação sobre escolhas literárias de diferentes lugares, regiões e idiomas. O IoT poderá providenciar em tempo real a localização de pontos de venda, detetar os livros e detetar quem os lê. Sim, pessoas podem ser detetadas pelo sistema IoT, reduzindo cada indivíduo a uma ´coisa´ no sistema total de ´coisas´. Poderá providenciar informação detalhada sobre que parte de um livro é lida com fluidez e que partes requerem mais tempo, ou em que ponto simplesmente se deixa de ler o livro. Informação interessante, especialmente se for possível evoluir além de meros dados estatísticos. Talvez, seja interessante para o desenvolvimento de estudos linguísticos e literários. Talvez, possa ter um valor prático para editoras e livrarias, determinando sugestões de inserir novos ´cliff hangers´ ou ´flashbacks´ no livro. Informação valiosa para a atualização de um livro e publicações adaptadas para cada região. Consigo imaginar outras prioridades além do conhecimento da informação geográfica de tudo … mas, assim como para muitas outras invenções, a sua utilidade é apenas percebida anos mais tarde.
Inquestionavelmente, ‘online-real-time-maps’ baseados em ‘open-source-data’ abre um novo mundo de possibilidades no mapeamento do ambiente do nosso dia-a-dia, desde a escala da nossa casa até à globalidade do planeta. Isso também permitirá um novo entendimento da realidade e resultará em novos conceitos relativamente ao espaço vivido. Mas, continuará a basear-se em valores humanos? Ou, poderemos imaginar mapeamentos autónomos, como a recente primeira pintura auto-gerada vendida em mercado financeiro, a representar a nossa cartografia oficial? Em termos artísticos, para alguns de nós este fenómeno pode ser bastante fascinante. Para outros, será um pesadelo burocrático, em que os mapas serão taxados a nível local e nacional. Com isto, num futuro próximo, um novo dilema de planeamento surgirá: deveremos depender das atuais tendências do desenvolvimento algorítmico privado dos mapas, ou serão os nossos representantes democráticos capazes de exercer algum ‘controlo-cartográfico’ para além dos interesses privados?
Map algorithm
Soon maps will be crucial to survive in the urban jungle. It won´t be the analogue version, this will be for collectors, but the digital version which will control our world. For many, this is already a reality. With the promise of the internet of things (IOT), soon all electronic devices and objects will consume and produce geographical data. Such as autonomous vehicles or robocars will depend directly on adequate map information. For a better and efficient driving performance, but also to increase safety. That sounds logic. Transport is about moving from one point to another, and maps are useful instruments to plan the shortest, fastest, safest and cheapest journeys. Reliable geographical information can also be an added value for things such as smart phones 10.0 and other information devices.
But what about ´things´ as washing machines, coffee machines, vacuum cleaners, indoor lighting, street lights, books, chairs, cloths, food … what function can maps have for those? Well, it is always interesting to know where books are located around the planet. It can give us information about reading cultures of places, regions and language areas. IOT can provide us in real- time the location of selling points, tracing books and who is reading them. Even people can be detected by the IOT system, reducing every single person to ‘one thing’ in the overall system of ´things´. It can provide information about which parts of a book people read smoothly or which parts people take longer to read, or even where people just even stop reading a book. Interesting information, especially if the feedback can evolve beyond the scope of statistical data alone. It might be interesting for language and literature studies. Or, it might have an applicable value for publishers and book sellers, to pin point exactly where a ´cliff hanger´ or a ´flash back´ is desirable. Valuable information for specific adaptations in an update of a book. Nonetheless, I can imagine other priorities than providing geographical data about everything … but, as with many other inventions, sometimes their utility in society becomes later clearer.
Unquestionably, digital ‘online-real-time-maps’ based on ‘open-source-data’ brings a completely new world of possibilities to map our daily- living environment, from the scale of our house to the whole planet Earth. It will also open new viewpoints to understand reality and concepts of our living space. But, will this be still based on people values? Or, can we imagine something like autonomous mapping – as the recently created self-generated painting which was sold on a stock market- to represent our official cartography? In artistic terms, for some this might be quite fascinating. For others, it can be a bureaucratic nightmare, if for instances, maps will also be used for local and national taxation. For the near future, a new planning dilemma will arise: shall we rely on the actual trends of private developed map algorithms, or will our democratic representatives be able to manage some kind of ‘map-controlling’ beyond private interests?
SOBRE O AUTOR: Daniel Casas-Valle (Utrecht, 1973) é urbanista, investigador e cidadão do Porto. Atualmente está ligado ao Centro de Estudos de Arquitectura e Urbanismo (Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto), onde elaborou seu doutoramento. Também desenvolve prática em urbanismo na Urban Dynamics (www.urbandynamics.info)