SE há um meio de transporte que representa perfeitamente a vida cotidiana do povo japonês, esse é o metrô. Carros particulares, sim, há muitos ― mas, independente de tê-los ou não, a população, principalmente das grandes cidades, prefere mesmo locomover-se pelos metrôs. Aliás, um registro: ao contrário do que ocorre em outros países (desenvolvidos ou não), no Japão possuir um carro não é símbolo de “status social”, sendo tal veículo usado mais nos finais de semana: para passeios.

E isso ocorre porque o sistema ferroviário é realmente eficiente. Primeiro, no quesito “pontualidade”. Não é exagero afirmar que os trens no Japão raramente se atrasam. Sim, há linhas mais lentas que outras ― caso, infelizmente, da linha Hibiya, que tenho de usar cotidianamente. Porém, de um modo geral, é muito raro um trem chegar atrasado: exceção feita, claro, em caso de incidentes. E aqui, entristecido, tenho de falar a respeito daquele que é o mais comum incidente nas linhas férreas japonesas: o suicídio.

É, caros leitores, nestes anos morando no país, foram muitas as vezes em que testemunhei trens parados e/ou atrasados porque alguém se atirou em frente do veículo. Principalmente, em meses como os de março e dezembro. Isso porque tais meses representam fins de ciclos de “emprego”: em outras palavras, as datas em que os trabalhadores podem ser demitidos. E a vergonha do desemprego, muitas vezes, é um fardo pesado demais para os japoneses, principalmente aos homens de meia-idade, que passaram a vida dedicando-se mais a uma empresa do que à própria família. E, de repente, cortados ― ou até mesmo rebaixados de seus postos ―, essas pessoas veem-se sem saída: envergonhados e endividados; tendo de pagar a casa comprada à prestação (dívida esta que, no Japão, pode levar até trinta anos para a quitação).

E há ainda o chocante caso dos jovens suicidas. Há alguns anos, por exemplo, foi noticiado que uma garota de treze anos atirou-se em frente do trem. E ao saber disso, perguntei-me: “Que dor tão insuportável poderia estar sofrendo alguém com treze anos de idade para tirar a própria vida? Bullying? Lar desajustado?”. Muito triste isso tudo…

Não quero, porém, prosseguir com um tema tão pesado. Assim, voltemos ao porquê de os metrôs serem o meio de transporte preferido pelos japoneses. E aqui vai uma curiosidade: além da pontualidade supracitada, o que mais chama atenção de quem toma um metrô no Japão é o conforto das poltronas. Por isso, é comum, a qualquer hora, ver-se os passageiros dormindo nos metrôs. Afinal de contas, como as viagens, principalmente em Tóquio, são de longa duração, é natural que, com uma poltrona tão confortável como a dos metrôs, caia-se realmente no sono. Eu mesmo, escrevendo agora esta crônica em um metrô, já sinto a vista pesar. Mas, opa, minha estação é a próxima!…

EDWEINE LOUREIRO nasceu em Manaus (Amazonas-Brasil) em 20 de setembro de 1975. É advogado e professor de idiomas, residindo no Japão desde 2001. Premiado em concursos literários no Brasil e em Portugal, é autor dos livros “Sonhador Sim Senhor!” (2000), “Clandestinos” (2011), “Em Curto Espaço” (2012), “No mínimo, o Infinito” (2013) e “Filho da Floresta” (2015), “Trovas escritas no tronco de um bambu” (2018), “Gotas frias de suor” (2018) e “Centelhas” (romance, 2019).  Foi o vencedor do 13º Concurso de Microcontos do Festival de Cine TerrorMolins (Espanha, 2019). É também colunista do JORNAL EM DIA, no Brasil: http://www.jornalemdia.com.br/categorias.php?p=16172

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