TODO imigrante sente-se bem ao ver que o seu país de origem desperta algum interesse no povo que o acolheu. Portanto, como brasileiro, é natural que eu fique alegre quando me deparo com japoneses indagando-me a respeito do carnaval ou de Zico (aqui, mais reverenciado que Pelé). Porém, tal alegria para mesmo nos temas “samba” e “futebol”. Porque a verdade é que, apesar de mais de um século de relações diplomáticas entre os dois países, nosso Burajiru (pronúncia japonesa para Brasil) continua sendo, para muitos japoneses, uma breve nota de rodapé nos livros de geografia.

E, pasmem, tal desconhecimento é encontrado até no meio acadêmico! Por exemplo, quando aluno na Universidade de Osaka, vi que nosso país era ignorado por muitos colegas e mesmo por alguns professores. Todos esses, aliás, especialistas em Política Internacional ― com um bom conhecimento do mapa-múndi, suponho ―; mas que sempre olhavam na minha direção quando citavam, por exemplo, a Patagônia! Um dos docentes, durante a Copa de 2002, chegou mesmo a dizer-me que era fã do futebol brasileiro desde os tempos de… Maradona.

É claro que, sendo justo, tal ignorância não se limita ao Brasil; e sim à quase totalidade dos países que os japoneses consideram “subdesenvolvidos”. Por exemplo, não foram raras as vezes que, em minhas apresentações sobre as intervenções militares dos E.U.A., tive de explicar à classe que a Guatemala e a Nicarágua não ficam na América do Sul. Isso porque, ao que parece, muitos japoneses ainda possuem a mentalidade primeiro-mundista de que o o planeta reduz-se à Europa e aos Estados Unidos ― exceção feita aos países asiáticos, à Austrália e à Nova Zelândia; que, pela proximidade, tornam-se conhecimentos obrigatórios para o Japão.

Porém, apesar do notório desinteresse pela América Latina, devo dizer que, no caso brasileiro, houve um período em que nosso país obteve maior atenção dos japoneses, a saber: entre 2003 e 2010. Um período em que podiam citar-me, pela primeira vez, quem era o presidente do Brasil. E registro isso sem propagandismos partidários: apenas como um fato que presenciei no Japão. Pois, sim, é verdade que, quando eu dizia minha nacionalidade e indagava o que sabiam a respeito do meu país, o nome do ex-presidente Lula era logo mencionado. Naturalmente que isso se deveu ao desenvolvimento econômico que o Brasil vivenciava na época; mas creio que o carisma do referido governante também contou pontos. Volto a frisar, porém, que meu depoimento não objetiva defender partidos ou líderes políticos: somente narrar o que verifiquei, no Japão, durante aqueles anos. Porque, sim, foi um tempo em que o nosso Burajiru ganhou um certo respeito. A ponto de conseguirmos até nos tornar independentes da Patagônia…

EDWEINE LOUREIRO nasceu em Manaus (Amazonas-Brasil) em 20 de setembro de 1975. É advogado e professor de idiomas, residindo no Japão desde 2001. Premiado em concursos literários no Brasil e em Portugal, é autor dos livros “Sonhador Sim Senhor!” (2000), “Clandestinos” (2011), “Em Curto Espaço” (2012), “No mínimo, o Infinito” (2013) e “Filho da Floresta” (2015), “Trovas escritas no tronco de um bambu” (2018), “Gotas frias de suor” (2018) e “Centelhas” (romance, 2019).  Foi o vencedor do 13º Concurso de Microcontos do Festival de Cine TerrorMolins (Espanha, 2019). É também colunista do JORNAL EM DIA, no Brasil: http://www.jornalemdia.com.br/categorias.php?p=16172

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