Atravessadouro na Rua Júlio Dinis, Porto.
NOTA DO EDITOR:
Não sei desde quando, talvez desde sempre, que tenho aversão aos atravessadouros. São como uma infração ou irregularidade que não devo cometer, nem permitir que se materializem em meu redor. Na infância e adolescência, quando ia com os meus amigos passear nos campos e montes de Valongo, S. Martinho do Campo ou Rebordosa, e tínhamos que passar pelos carreiros ficava com receio de ser surpreendido pelos proprietários. Caminhava com um olho no trilho e outro nas redondezas. Tinha a consciência de que estava a ir por maus caminhos, de que não devia ir por ali, de que, em alternativa, devia seguir pelas ruas, estradas, estradões ou caminhos vicinais públicos.
Já em adulto a sensação repete-se. Se tenho de atravessar uma rua e está por perto uma passadeira sinto-me forçado a atravessar sobre ela e se não o faço sinto-me mal. Se tenho de contornar um jardim e vejo um atalho, raramente sigo por este e se o faço fico envergonhado.
Nunca tive explicação para esta atitude auto repressiva e que acaba por ser a aplicação prática do ditado popular: quem vai por atalhos mete-se em trabalhos.