Alberto Pimenta é um dos nossos maiores poetas. Eterno experimentalista e artista de vanguarda, deu muito que falar nos anos 70, numa performance em que entrou numa jaula de um chimpanzé, no Jardim Zoológico de Lisboa, exibindo uma tabuleta com a palavra “Homem”. Autor de uma vasta obra, o seu livro mais conhecido e traduzido é “O Discurso sobre o Filho da Puta”. E chega a afirmar nesta conversa: “Há muitos. Estão dispersos. Estão na política, sobretudo. Naturalmente nas Forças Armadas.” Depois de “Zombo”, lançado em 2019, já há novo livro de poesia no horizonte que se deverá chamar “Há Tudo”. E se não há tudo, há certamente muito para conhecer, refletir e ouvir sobre Alberto Pimenta neste episódio do podcast “A Beleza das Pequenas Coisas”.

Entrevista de Bernardo Mendonça

Foi na sala do apartamento do poeta Alberto Pimenta onde decorreu esta conversa que começou com a simples pergunta: “Para que serve a poesia?” A resposta surgiu logo pronta… não a comer, mas a ouvir. “A poesia serve sobretudo quem a faz. Porque fá-la por uma necessidade interior. Seja a poesia que nós apreciamos muito ou apreciamos pouco. Quem a fez tinha uma compulsão. A poesia faz-se por compulsão. Assim como o ‘serial killer’ mata por compulsão, é exatamente a mesma coisa. Quem consegue fazer poesia deve ficar feliz. E fica. (…) Apetece-me muitas vezes dizer que a poesia é contrabando. Porque o normal é a chatice da prosa, que tem as leis, tem as regras, tem o que se deve fazer. E tem-no de uma maneira complexa que obriga a interpretações. A prosa vem do latim “Prosus” que significa “sempre em frente”, “sempre avante”. Até chegar ao ponto onde quer. A poesia não, é sinuosa, faz contrabando de ideias e palavras. E eu tenho sido um grande contrabandista.”

Sobre o epíteto de “Homem Pikante” dado pelo realizador Edgar Pêra num filme sobre Pimenta, surgiu a questão ao homem agitador de consciências a quem também já chamaram ‘anjo irado’: considera-se um homem picante?

A resposta foi com o condimento da verdade: “Não sei se o Edgar Pêra ficará zangado comigo. Quem criou o epíteto foi o pequeno filho de Edgar Pêra, o Henrique, de 5 anos. Que ouviu o pai falar do Pimenta e disse ‘pai, esse é o homem picante’. E assim nasceu esse título com um jogo que é um perfeito ‘looping’, é um oito. Não me considero um homem picante. Sou um homem muito, muito trivial, picante poderá ser o que escrevo, poderá ser qualquer manifestação minha. Mas sou discreto e tenho necessidade de sê-lo. Faço performances, sim. Como naquela que estive sentado numa cadeirinha pequenina, no Chiado, com a placa “Homem Vende-se”.

Este é só um aperitivo do tanto que poderá ouvir neste episódio, onde Alberto chega a falar do sentido da vida, a presentear-nos com a leitura de dois poemas, as músicas que o acompanham, e terminando com um brinde com conhaque. “À vida.”

Publicado in Expresso

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