705
0
COMPARTILHAR
Inicio A Bula O poema por J...

O poema por João Cabral de Melo Neto

O poema por João Cabral de Melo Neto

0
705

A tinta e a lápis
Escrevem-se todos
Os versos do mundo.

Que monstros existem
Nadando no poço
Negro e fecundo?

Que outros deslizam
Largando o carvão
De seus ossos?

Como o ser vivo
Que é um verso,
Um organismo

Com sangue e sopro,
Pode brotar
De germes mortos?

*

O papel nem sempre
É branco como
A primeira manhã.

É muitas vezes
O pardo e pobre
Papel de embrulho;

É de outras vezes
De carta aérea,
Leve de nuvem.

Mas é no papel,
No branco asséptico,
Que o verso rebenta.

Como um ser vivo
Pode brotar
De um chão mineral?

in O engenheiro (1945)

Partilha

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here