Agradeço a invisibilidade do vento soprando os meus sentidos
Limpando os meus olhos.

Agradeço a sutileza das nuvens esculpindo seres gigantes no céu
Nutrindo uma escalada de sonhos.

Agradeço a palavra que escapa – livre, leve e bendita – entre mim e o mundo
Para construir castelos com infinitas portas sem trancas ou aldravas.

Agradeço pelo sopro de vida no parto, alento criador que amplia o mundo
Mar amniótico sob lua eclipsada e estrelas e poetas sobre proas e popas semeando versos para alimentar as águas.

Agradeço pelo sol – mancha translúcida, morna, alaranjada – véu vital sobre tudo
Fotossíntese e amálgama e amor em indizível plenitude.

Agradeço pelo ar, pelos silvos misteriosos na noite, pelos assobios dos elementais minúsculos
Pois no oxigênio habita o formidável e é lar de toda eternidade invisível.

Agradeço pelo silêncio dos peixes mergulhado nos meus olhos
Pois estes são sãos e varam as águas e as ternas janelas do nada, enchendo de espírito os vãos transparentes e todos os vazios.

Agradeço as distâncias inapreensíveis e que me fitam
Porque elas também são a poesia da minha existência.

29/01/2020

Josafá Paulino de Lima, mais conhecido por Josafá de Orós, nasceu em Orós, CE, (1965). Reside em Campina Grande, PB, desde 1970. Possui graduação em Ciências Sociais pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB). É sociólogo, artista plástico, poeta, produtor cultural, assessor em projetos de desenvolvimento, diretor executivo da Fundação Universidade Camponesa, sócio dos Institutos Históricos do Cariri Paraibano e do município de Pocinhos, na Paraíba e membro da Academia de Cordel do Vale do Paraíba. No campo artístico tem trabalhado com pesquisa, produção e exposições principalmente em xilogravura…

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1 COMENTÁRIO

  1. Texto com muito a ver com o nome do poeta: Josafá … de Orós … e muito apropriado para este momento em que a vida parece moeda de repente fora, por completo, de circulação.

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