GOSTO de ti assim vestida. O calor do Verão reflecte-se na brancura do azul que te embeleza o corpo desejado. Então és o céu, o mar e o rio materializados numa só pessoa e num só corpo. Tens as mesmas cores. Tudo em ti é melodia, música suave, brisa refrescante, voraz fascinação.
Às vezes olho-te, como se fosses toda minha.
Imagino.
Com a polpa dos dedos percorro as formas do teu rosto, traço caminhos só meus na tua pele, demoro-me nos teus lábios onde a carícia é suave, e deixo-me embeber na doçura que me vem da luz dos teus olhos.
Sabes, hoje lembrei-me de ti, parece que te recordei o ontem todo, o hoje e o amanhã que ainda há-de chegar.
Só o silêncio me responde.
És uma miragem, uma criação só minha, um reflexo de luz que me faz falta, um poema que nunca será meu, mas que canto como se fosse o hino maior da natureza.
Neste amanhecer azul, o branco purifica a minha saudade.
Beijo-te.
SOBRE O AUTOR: Manuel Araújo da Cunha (Rio Mau, 1947) é autor de romances, crónicas, contos e poesia. Publicou: Contos do Douro; Douro Inteiro; Douro Lindo; A Ninfa do Douro; Palavras – Conversas com um Rio; Fado Falado – Crónicas do Facebook; Amanhecer; Barcos de Papel; Casa de Bonecas e Crónicas de outro Mundo.