A LIBERDADE, esse estado aparente de corpo e de espírito, pode transformar-se na plena essência da palavra, se não permitirmos que nos aprisionem a mente.

As Garças sabem isso desde sempre, e utilizam as asas apenas para se deslocarem vagarosamente e em voos curtos, de um local para outro, porque, o amor que gera futuras vidas, fazem-no nas margens de um maravilhoso rio como o Douro.

Na maré baixa, quando o mar se afasta da terra recolhendo as suas águas, estas aves vêm brincar para os areais deste imenso estuário, áreas de extraordinária produtividade e diversidade biológica, a dois passos da cidade surpreendente, fazendo deste sítio de paisagens deslumbrantes, o palco de muitas das suas belíssimas e solenes representações amorosas.

Particularmente na época do acasalamento, em que paira na atmosfera o odor apelativo de ternurenta afeição, desdobram-se em namoros. Danças que mais não são do que eróticos rituais de acasalamento que surpreendem e encantam quem os vê.

É ao amanhecer, quando o rio se deixa iluminar pelos primeiros raios do sol e exala os seus matinais perfumes, que se iniciam as delicadas danças que são doces bailados amorosos que se vão repetindo, todas as primaveras, ao longo dos séculos.

As Garças também sabem que, tanto na vida como no amor, o que é verdadeiramente importante é encontrar um local onde os sonhos nunca tenham fim.

Manuel Araújo da Cunha (Rio Mau, 1947) é autor de romances, crónicas, contos e poesia. Publicou: Contos do DouroDouro Inteiro;  Douro LindoA Ninfa do DouroPalavras –  Conversas com um Rio; Fado Falado –  Crónicas do Facebook;  Amanhecer; Barcos de PapelCasa de Bonecas e Crónicas de outro Mundo.

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